sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

As ruínas

As ruínas

No fundo do mar, os corais.
Dentro de mim, o meu coração.
Dentro dos seus olhos, carnavais.
Dentro da nossa história, a indagação.

O que foi dito
O que foi colhido
Quase nada foi aproveitado
E pôs-se a sentença
O veredicto

Vingança não compensa
Raiva mata
É doença
Rancor desgasta
A saudade é imensa
E nada te afasta

O eco da solidão
Grita tão alto
Que ensurdece
Agride minha emoção
Estou tão descalço
Que quase sinto o chão

Mas hoje
Especificamente falando
Não pude acordar
Apenas não consegui ver o dia
Não senti nada especial
Foi o momento em que vi
Que não mais lhe tinha...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Meninas, garotas e mulheres

Eu sou uma menina
Você é uma menina
E o que podemos fazer?
Nossas experiências são tão concisas
Somos jovens
Somos tão genuínas

E o que pode se dizer?
Ainda não rompemos o lacre
Mas queremos saber

Eu sou uma garota
Você é só uma garota
E o que podemos fazer?
Nós vestimos qualquer roupa
Somos suaves
Somos tão loucas

E o que podemos pregar?
Cuspimos palavras
Não sabemos onde elas vão parar
Não queremos ver o preço que vamos pagar

Eu sou uma mulher
E você é só uma mulher
E o que podemos fazer?
A gente pode ir onde a gente quiser
E assim a gente pode se perder
Eu sei quem eu sou
Você sabe quem você é
Mas isso não é o suficiente

E o que podemos dar?
Será que já não perdemos o bastante?
Sei o que nos é elementar
Mas certas respostas se mostram insignificantes

Eu sou eu
E você é só você
Nós temos uma a outra aqui
E nada mais precisamos fazer

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Fera ferida

Acabou?

Assim como a chama que apaga e deixa aquele resquício de fogueira para mais tarde... Mas quem vai garantir que o fogo volta? Ela não vai voltar...

Era a transformação da euforia em algo suave, mas absolutamente extasiante, que me fazia entrar em estado de transe, numa espécie de epilepsia que só eu e ela poderíamos experimentar e testemunhar respectivamente. Talvez ela não tenha se dado conta do que fez, mas ela visitou meu interior e deixou algo lá dentro, perdido, que vaga até hoje. Acho que ela deixou algo que pertencia a ela e talvez ela não sinta falta. Não vai sentir agora. Nos transformamos em uma só. Fato. Mas ela é feita de muitas ramificações estranhas, ela não tem um acabamento exato e vive aos pedaços, sem uma definição clara. Ela deve viver se desperdiçando por ai. Ela não se guarda. Um dia ela vai terminar por falta de si.

Lembro que era como uma briga de mundos opostos que precisavam e buscavam a mesma luz e não podiam existir em conjunto, mas separadamente ardiam. Os mundos se machucavam, não se amavam, mas não podiam descansar em planos separados. Eram mundo incompatíveis e dependentes um do outro.

O corpo, a carne, o sangue, o encontro, era tudo explosivo demais, carnívoro demais. Havia muita dor concentrada, muita dor transformada em prazer, em excitação carnal, em orgasmos contínuos e incansáveis; as expressões faciais, as contrações internas, o suores se encontrando. A altura da temperatura dos corpos, era a febre, era um vulcão em erupção. A lava escorria pelos caminhos, pelas vias de ambos os corpos. Fomos transformadas naquilo que somos hoje: rochas.

Era o coito das rosas, eram pétalas de rosas que roçavam incansavelmente uma na outra, gineceu com gineceu e tais rosas eram espinhosas, expeliam veneno e se machucavam, enfraqueciam, fortaleciam-se, enfim, viviam como flores selvagens e entregues. Mas eram entregues ao momento.

O extremo era quando não mais conseguia-se controlar o apogeu de tanto prazer e aquela sensação dominava todo o corpo, toda a mente e mãos e pernas, não tinha-se controle, apenas trabalhava-se instintivamente, podendo trazer o prazer ou o caos. Ainda não sei bem o que fizemos.

Sei que uma vez quis matá-la. Quis dizer no ato, responder a todos aqueles estímulos da maneira mais definitiva. Quis dar a ela tudo o que ela estava me dando.

O que era aquilo?

Ela se pintou nas cores do meu sangue, escreveu sobre os meus lençóis que éramos feitas do mesmo material, material esse que é de péssima qualidade, mal acabado e facilmente encontrado nos subúrbios da vida. Éramos o ponto mais ínfimo uma da outra. Éramos a personificação da sarjeta.

Ainda não me esqueci. Todos os dias as lembranças desse carnaval que jogava confetes e serpentinas em nossas avenidas, vem me visitar e dizer que eu sou tão suja quanto ela.

Talvez tenha me conhecido mais a partir dessa relação, talvez tenha visto algo em mim que nunca tivesse visto antes, o meu passado. Quem eu fui, apareceu de uma só vez na minha frente e lançou-me aquele sorriso cínico, sádico. Eu merecia tudo aquilo.

A mesma espécie.


Aprendo a separar o joio do trigo, o coração do corpo, o afeto do prazer, o amor do gozo.

Que venham mais erupções...

Vênus ajudou e Mercúrio fez a sua parte...


Sou um animal sentimental...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Não pode. Não quero. Não vai.

E se for?

Tenho medo que seja. Tem cheiro de flores pela manhã e de morte pela noite. Não pode chegar, se instalar, se infiltrar em minha vida e deitar no sofá, como se fosse hóspede. Não quero mais aqui! Isso tem que residir em outras veias, em outros braços, em outros corpos, outras almas, e obviamente em outro coração, pois o meu não mais deixará tal sentimento fazer casa em seu interior.

O tempo passou, outros dias chegaram. Eu vi um sol mais quente, mais reluzente, vi outras faces mais vivas, mas ainda me senti como a mesma pessoa.
Como me achar? Não sei.

Será que não acabou? Será que ainda há resquícios, pendências? Não cabe a mim trazer isso de volta, mas e se for para voltar? E se o seu lugar for aqui, dentro de mim, se for parte de mim? Se for eu? Não posso ficar sem mim, esparramada, pela metade, anêmica. Eu preciso do complemento. Não quero que o meu complemento seja aquilo. Não mesmo!

Estava tão longe, ou se estava perto, parecia estar dormindo em sono profundo, em plena letargia. Por que ousaria acordar agora? Esse sentimento é sonâmbulo, pois dorme e vive em movimento, caminha, se comunica, mas não está consciente e isso tem salvado os meus dias.

Não venha bater em minha porta e reabrir a minha cicatriz! Fique bem longe de mim!

Vou dormir de luz acesa, pois eu tenho muito medo desse escuro que vive dentro de mim. Esse escuro se chama "meu eu".

A briga dos anos, do tempo que passou e não levou. Talvez tenha levado, mas não levou tudo. Ainda dorme aqui, ainda acorda em mim. Não houve o óbito, apenas o coma. Estava em coma. Preciso que esse coma permaneça até o fim. Não quero mais viver isso. Tempo demais. Três anos é tempo demais...

Está fazendo falta, mas o que é?

Estou com saudade de algo ou alguém que não existe. Preciso quebrar minhas paredes e descobrir o que me espera do outro lado...

Há muitos monstros, muitos inimigos, perigos, mas também há os abraços e os sorrisos.

Eu busco aquela, a única exceção...

Ela.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Os olhos magoados da terra...

Que brisa... Que sol... Que lua...

Em dias em que o nada consegue explicar o que parece ser tudo, vejo meus olhos sem multidões, mudos...às vezes tudo é claro, às vezes tudo é escuro...
A calda desse cometa vai se despedindo....

Cores que nos mostram a cara das estações....

Corações a mil... Acelerados por excessivas sensações.

Triste, triste terra! Chora todo dia pela paz e pela guerra. Sozinha e vazia, inteira e em eterna espera. É por baixo que ela impera. Ela fica e nunca se leva...

Ela fica assim...longe das coisas que flutuam...

Mais um dia...Mais uma noite...Enfim eu e você.

Passei...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Eu gosto é do gasto...

Estou no escuso, no limbo, no beco aspirando miasmas, vendo a podridão e a gangrena da multidão que ali se escora. Eu estou me vendo ontem e estou me vendo agora...

Estou no limite do desassossego, do impossível, do tridimensional, do invisível e do visceral...
Busco razões, mas não as quero explicadas, busco relações, mas não as quero adulteradas, eu quero sim e não quero não...

Não me entendo...

O meu apego, o meu sentimental, meu desespero é precisar me estabelecer com o mal, para tirar de dentro de mim tudo o que é do bem...

Eu gosto do gasto, do estranho, do imundo, do caolho, do impulso, do estragado, do doente. Me encanto pela sujeira, pelos vícios, pelo lado negro. Preciso, preciso e preciso! Preciso do que não presta, do que tem sangue ruim.
Sou criminalmente apaixonada pelo imoral, pelo difuso, discriminatório. Eu gosto da periferia, gosto do esgoto, do mal mastigado, do lambido, do torto, das linhas paralelas. Eu gosto das insanas, gosto das profanas, sanguessugas e gosto delas, gosto de matar a minha sede em águas contaminadas.

Eu sei por que, eu sei! Eu preciso perder a minha pureza, deve ser e se não é, deve ter um outro por que...

O coração? Esse já não fala mais aqui, está fora de combate. O coração precisa dormir, precisa de disfarces,  mas não tem poder algum, eu garanto.

Estou escondida, estou à mostra, estou submetida, estou de costas, mas não estou esquecida e nem indisposta, apenas um pouco envelhecida e imposta.

- Terás paz, terás prazer. Terás mais dias de sol do que seus olhos e sentimentos poderão ver, mas terás calor, terás luz, é só abandonar essa cruz e começar enfim a viver. - E foi assim que comecei a existir, deixando de ser quem não era.

Menina boba!


Dentro de mim, tudo, fora, um mundo...

Não deixe de querer, apenas não insista em pensar. Jogue o que não presta fora e vá embora. Há uma colheita que te espera. Vida nova. Vida certa.


Eis o ciclo....

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Vou mais além, não bebo dessa água...

- Linda, vem ver como o sol sai lá fora! Vem ver! Tudo de bom que começa, antes tem que ir embora. A gente se despede às pressas, mas depois reencontra quando chega a hora... -

Eu vejo meu céu de recompensas, mesmo quando estou cercada por derrotas. A vida às vezes age com violência, mas nos afaga e nos mostra a glória. Lamentar-se nunca trouxe aos mais frágeis a força e a redenção. O sofrimento traz sabedoria, continuidade e dimensão.

Lembrar faz bem, mas se a recordação cria edemas, é melhor lembrar de esquecer aquilo que ainda não tem perdão. O que dói não é a ferida, não é a lesão, e sim o tempo que se dedica da vida para quem muito bem não sabe usar o coração.

Trazer consigo um sorriso reserva, renova o que já automaticamente é considerado como perda, instiga novas intenções, expectativas e nos fortalece para outras experiências e amargas lições. 
Ninguém está isento de se perder em selvas infestadas de leões, mas o desafio, a luta e a sobrevivência são o que dão o crescimento e o dia após o dia...

Calarei-me, mas não deixarei de trabalhar minhas palavras internamente. 

"Os sonhos vem, os sonhos vão. O resto é imperfeito..."


A gente nunca perde algo que nunca teve. Se saiu de perto, é porque não suportou a nossa luz. O escuro foge da luz. 

Não deixo pra depois, apenas guardo para mais tarde....

domingo, 6 de novembro de 2011

Somos soldados pedindo esmolas.



Tanques, bombas e uma iminente guerra.

A pergunta é, quem é o inimigo? Contra o que ou quem lutar?
A resposta é clara, é óbvia, mas não é tão compreensível aos desavisados.
A guerra é contra mim mesma, o conflito, a destruição, o bombardeio é contra mim.
Não me vejo propriamente como inimiga, mas sim como o outro lado, o oposto do que eu deveria ser.
Quero me respeitar mais. Quero me olhar mais, me escutar mais. Quero chegar em um consenso comigo. Só que eu tenho um defeito. Eu sou teimosa. Eu sou virginiana demais e faço as coisas muitas vezes por impulso e ultimamente meus impulsos têm sido instigados pelo meu coração, ou pelo menos é o que parece. Na verdade, meu coração está um tanto calado, pois acha melhor não dar sua opinião por hora. Ele sabe o que fez, ele sabe que teve participação nesse caos em que me encontro e não quer se acusar e nem se defender.
Mas dentro do contexto bélico que aqui citei, eu quero poder me enfrentar mais impavidamente, sem recuar, sem hesitar, sem tentar erguer a bandeira branca.
Se precisar, passo noites, dias, meses em trincheiras para me esconder e permanecer neste campo de batalha, dando vida a este conflito. Quero me vencer e me fazer prisioneira, mas quero me prender para me sentir livre.

Ela dá voltas no mundo, destrói as minhas estradas, inflama minhas feridas, passa por cima do meu orgulho, me apunhala, me úlcera e vem sorrindo como se tivesse acabado de me conhecer. Ela é o diabo. Ela não tem chifres, ela não tem rabo. Mas posso dizer que ela quer a minha alma. Ela quer me condenar ao fogo do inferno. Ela quer me condenar à danação eterna. Ela quer me condenar a ela.
Ela me procura quando todas as portas fecham em seu rosto. Sou sua última chance. Sou o que resta. Sou a derradeira. A que fica esperando. Sou seu gole d’água quando todos os oásis do deserto se mostram secos.

Estou lutando contra mim para não mais ter que enfraquecer diante das tentações desta inimiga. Para muitos, o mais certo seria lutar contra ela, mas é fato que seria uma luta perdida. Quem precisa ser vencida sou eu. Eu é que preciso ser derrotada e não mais fazer o que não devo. Se eu não me vencer, eu morro de amor. Se eu permitir que ela venha e me invada, eu perderei a dignidade e o meu coração. Estou à beira do abismo. Escolho se pulo ou se volto pra casa. É burrice pensar que a uma altura dessas adquirirei asas:
 - Não, sua estúpida! Você não vai voar! Acovarde-se hoje e tenha a maior das coragens amanhã! Não se jogue em algo que você não vê e conhece, se sabe que lá no fundo a superfície irá te machucar provavelmente até a morte. – A minha voz interior quis me salvar.

Talvez não precise desta batalha contra mim, talvez não precise haver tanto derramamento de sangue para que eu viva. Mas eu tenho que aprender a medir tudo a minha volta. Preciso me lembrar da sábia frase do Dr. House: “Todos mentem”. A mentira dói, mas mostra quem são as pessoas. Então tudo tem seu lado positivo. Até um câncer pode ser positivo de alguma forma.
Vou me enfrentar, mas serei justa comigo. Seremos amigas e não permitiremos
 que pessoas com deformidades na volta do coração e no caráter, venham outra vez transformar em cemitério o jardim que tanto tempo levei para construir. Deixem minhas rosas, pois elas sentem o mesmo que eu!

 Eu vou com tudo. Que vença a melhor parte de mim!


“Se quer paz, prepare-se para a guerra.”

(É tudo interno e acaba se refletindo no externo)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

E quando eu for embora, não, não chores por mim..



Num dia como hoje, onde qualquer paisagem tem seu valor e sua história, a minha vontade era a de apenas me esconder entre as flores, entre os matos, as árvores, os jardins... Colecionaria outros tipos experiências, adquiria outro tipo de conhecimento, diferente do que já possuo. Talvez saiba demais, algo que não me interessa saber. Talvez já tenha vivido e visto de tudo e isso instiga a minha demência. Quero apenas ter o privilégio de viver e não pensar em mais nada. O excesso de perturbações e ideias tem alimentado e muito a minha vontade de fugir. Todos os que se aproximam de mim, acabam sempre levando mais do que me trazem. Estou ficando enfraquecida, desfalcada, doente e só. Não tenho mais pesadelos, nem fobias estranhas, mas também não tenho sonhado e nem alimentado nada que me faça almejar novas explosões em minha vida. Queria apenas não estar mais aqui, queria apenas não ter mais que me preocupar com aquilo que me machuca. Estou lado a lado com o espinho que me fere e ele apenas diz querer fazer sua parte e cumprir seu papel. Todos estão no lugar que deveriam, menos eu. Não cumpro o meu papel e por isso, talvez não devesse permanecer aqui, nesta história sem sentido. Preciso começar tudo de novo. Se é que algum dia teve início. Enfim, se agora não é hora, depois também não será. É no mais amargo dos dias que encontramos a doçura em nossos lábios. Deve ser isso. Preciso acreditar que é. Estou deixando, estou permitindo. Sem loucuras, sem extravagâncias, sem dormências, sem covardias. Deixarei ser o que é, mas também não ficarei na espera. Venha quando vier, o que vier e seja bem vindo! Nada mais me trava...estou vendo tudo e com os olhos fechados pra não ficar cega...

Que assim seja...

Estou de volta e é como se nunca tivesse saído. Adeus férias. (Ela está de volta)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O corpo governa a mente ou a mente governa o corpo? Eu não sei...



Traz o espelho!
Traz a luz!
Traz de novo o sorriso!
Traz o contorno dos meus olhos!
Traz meu nome!
Traz minha liberdade!
Traz o meu velho!
Traz o que eu era!
Traz a estrada!
Traz os anseios!
Traz o seu corpo!
Traz a vida!
Traz a escada!
Traz os gritos!
Traz arranhões!
Traz as mordidas!
Traz os medos!
Traz as incoerências!
Traz as incompatibilidades!
Traz as excentricidades!
Traz as metades!
Traz os abraços!
Traz os beijos!
E vê se volta pra mim!

"Se fosse só sentir saudade...Mas tem sempre algo mais, seja como for..."

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Se deixo meu coração doer é para me sentir viva, mas se recorro a indiferença, minhas ardências ficam mais resumidas?





O torpor do amanhecer


Eu não sou rica
Eu não bebo água da bica
Eu não me arrependo de estar viva (talvez)
Sou fraca, mas não sou suicida.

Tenho companheiras
E mais de mil inimigas
Vejo minhas aliadas em perigo,  aflitas
Minhas vivências estão registradas
Estão escritas

Não tenho meias palavras
Tenho léxico
Esqueci as mágoas
Meus inimigos são disléxicos
E desconhecem as palavras sobre as águas
Me tornei alguém tão complexo

Não vejo coerência
Muito menos nexo
Minhas experiências vêm do sexo
E de suas consequências
Sem cérebro não se tem inteligência
Nem verso
A poesia sai sem rima
E sem gesto

E espero
Que ela seja muito feliz
E quando eu puder sentir outra vez
Que ela tenha o mesmo sorriso de miss
Para que eu possa olhar para frente
E ter liberdade
E dizer que me libertei do amor dela
Apenas por um triz.  

quinta-feira, 30 de junho de 2011

A doce menina dos Andes



Abri a minha janela e vi meu rosto entre os restos de um fim do um mundo já anunciado. Entre os detritos, entre os resquícios de vida, eu era a profetiza, era eu quem jogava as palavras e previa o que estava por vir. Eu anunciei tudo, abri todos os cadeados, concebi a liberdade a todos, mas eu fiquei presa. Eu me deixei trancar entre nuvens, não consegui me emancipar e estou lá até hoje. Eu tinha tanto medo de ser vista, de ser notada, reconhecida e apontada, que resolvi me fechar como um caramujo e guardei meu sorriso e meu gosto pela vida dentro do meu útero.

Deus sabe que eu não queria cometer esse erro outra vez, mas a verdade é que esse erro sempre fez parte de mim, antes mesmo de eu ter a ideia de que isso poderia me arrastar como areia, em uma tempestade no deserto. Eu fui sem freio, eu fui sugada, fui levada e eu fiquei parada no meio de um beco que tinha vários olhos castanhos e eles me condenavam, por eu não ter sido mais forte.

Eu poderia ter culpado o etílico, eu poderia ter culpado os maus espíritos, eu poderia ter culpado a noite, os corpos, a música, a garota, mas eu fui a culpada, pois não dei as costas ao meu vício. Eu fui atrás dela, lhe dei as mãos, ela veio grudada em meus dedos e me fez voltar para aquele paraíso artificial de sorrisos e metáforas, de dimensões paralelas, de chãos abertos e felicidade pseudo-constante. Ela me enganou mais uma vez. Ela me seduziu, veio falando em meu ouvido e dessa vez eu cedi.

Tudo em meu mundo se mostrava agradável, tudo tinha sua beleza, mesmo não me fazendo gargalhar a todo o instante. A dopamina era a dopamina. Era pouca, mas era a minha dopamina. Ela veio me jogar mais e mais dopamina. E tinha adrenalina, adrenalina. E eu estava misturada àquilo tudo. Eu já não sabia mais quem era, mas era quem eu sempre deveria ser. Eis meu maior temor: eu só me sou de verdade quando estou sob a influência dela. Ela me põe pra fora, ela me joga para o mundo. Ela me tira o medo, me tira as angústias, ela esconde meus pesadelos, ela faz um casulo em seu corpo e ali eu me abrigo quando há uma tempestade incurável do lado de fora do meu mundo.

Eu sou filha da Terra e do Céu, como naquela canção, mas não continuo limpa. Veja que me sujei, que me deixei imundar pela ilusão, pela divagação, pela exclamação inexata da vontade e da saudade. Eu ainda não consigo conceber a ideia de amar tanto um ser que nem sequer respira e simplesmente me faz respirar aceleradamente, sem freios. Eu a coloquei dentro de mim e nem esperei. Repeti várias e várias vezes, até que eu pudesse voar e voar. E voei, deslizei, acho que tive um orgasmo cerebral, me alinhei, amei a todos, eu dancei com todos. Eu dividi meu corpo em milhões de pedaços e inalei seus cacos, que de tão quebrados, viraram pó. Eu me inalei. Eu me transformei na grama mais infame, mais torpe, mais imunda do mundo. Eu me tornei a miséria, a violência, o medo e o vício. Eu me transformei no grande amor da minha vida. Pois sim, devo admitir que a amo, que a desejo, que preciso dela, que preciso sentir seu gosto, mesmo sabendo que é tudo mentira. Que é tudo quimicamente fatal.

Deve haver uma explicação, uma sentença, uma oração que me diga, um mero sintagma nominal pelo menos, que me responda, como posso ser de alguém como ela e como ela pode ser minha. É como se não houvesse a separação. É a relação de amor e ódio que foi estabelecida. É o Céu e o inferno de uma só vez. Ela é o bem o mal. Ela me deixa de quatro, dormente, indigente, reticente, ausente,  incoerente e talvez mais inteligente, mais sólida, mais pra frente, mais mórbida, mas mais experiente e voraz!

Devo frisar que não tenho o intuito de fazer uma ode aqui, muito menos tentar justificar essa minha dependência, mas sim, quero com essas meras palavras, tentar entender o que me leva a procura-la, a persegui-la, a busca-la, a correr todos os riscos carnais de estar outra vez com ela. Eu queria saber o porquê dessa minha fraqueza, onde fica esse rombo, esse abismo, essa lacuna dentro de mim, que só ela parece conseguir preencher. Eu tanto fiz, tanto pensei, tanto me senti capaz e em uma corriqueira noite de distração, eu acabei sucumbindo ao meu velho “eu”, àquele “eu” demente, fraco, inexpressivo, abusado pela vida, reprimido, magro espiritualmente, aleijado psicologicamente e sem voz nenhuma. Eu era muda e gritava todos os dias por dentro e só o veneno escutava, só a Santa Clara, entendia meus gemidos, meus sussurros, ela decodificava meus ruídos e me contemplava, me amava e me erguia sobre as cabeças do mundo, como se eu fosse a única Deusa, como se eu fosse a verdadeira realeza e dona do mundo. Eu, egocêntrica como sou, me deixava correr o mundo envolta naqueles braços magros, porem fortes. Eu era absolutamente dela e ela se dava à mim em doses homeopáticas, e assim, essa relação de não separação foi sendo gerada. Nosso hiato me causa falta de ar, pesadelos, espasmos, sudoreses, fobias, visões, depressões, idiossincrasias bizarras, vontades de entrar para de baixo da terra, vontade de voltar a dormir no útero da Mãe Natureza e não mais acordar.  Mas acho que não devo me entregar, devo permanecer na minha árdua luta de desintoxicação mundana. Talvez, para largar de vez a mão do diabo, eu tenha que viver em um mundo mais puro, mais santo, talvez eu tenha que abrir mão das minhas vontades plurais, mas a minha paz de espírito, a tranquilidade da minha alma não tem preço. Sei que ainda não tentei de tudo, ainda não pulei todos os muros, ainda não usei todos os meus escudos. Por isso, ainda é muito cedo para desistir, ainda não amanheceu para eu me pintar covarde. Eu vou buscar entre todas as árvores, entre todas as águas, entre todos os terrenos, entre todos os lares, entre todas as matas, entre todos os Homens, não tropeçar mais em pernas erradas, mesmo sabendo que o meu desejo pelo alcaloide dos Andes é mais intenso quando protuberante e expansivo. Eu não posso me sentir derrotada em uma batalha que está longe minguar.

Tenho todos os dias fé, memórias, talheres, amigos, dedos, amores, confusões, dores, cigarros, whisky e vodcas, glórias, família, músicas pelos quatro cantos do meu mundo. Eu tenho todos os elementos que preciso para existir e prontamente viver. Não posso me vitimar, não o faço mais. Eu evoluí independentemente de qualquer rasgo que tenha sido aberto em meu peito por esses dias.

Eu permaneço apaixonada por mim, pelas minhas ideias, pelos meus arranjos, pela minha maneira de enxergar o mundo, apenas por não mais haver ninguém que chegue perto do que eu sou. Sou única, assim como todos são, mesmo uns querendo imitar os outros, mas essa é uma questão que não pede minhas palavras agora.

Voltando a profana rainha venenosa e saliente, que devora meus olhos e minha mente, quero lembrar que o meu fascínio e a minha maior mágoa com ela, é na verdade o fato de ela conseguir anular quase que absolutamente a minha essência, o fato dela me deixar dormente e me fazer não me importar tanto com as dores do mundo. Como se nada mais fizesse diferença. Essa é a sua maior questão. Ela tem dominado o mundo, pois as pessoas ainda não aprenderam a sofrer com dignidade e recorrem a ela para poder, sentir menos dor, ou simplesmente não sentir nada. Eu digo, pois também já fui assim. O pior é querer e procura-la, quando não se tem dores e nem vazios.

Eu e ela teremos uma longa conversa e espero que uma hora dessas seja definitiva, pois não cabemos juntas no mesmo espaço por muito tempo: ou eu a mato ou ela me mata.

Que fique bem claro: “Alimento pra cabeça nunca vai matar a fome de ninguém.” 

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Perdi as asas e não o senso de humor.





O anjo decaído

Sou seu anjo alcoólatra e não te prometo nada
Nem o Céu eu posso te oferecer
De lá fui expulso
Por isso meu destino é sempre descer
Eu prefiro sair pelas ruas e beber

Sou seu anjo dependente químico
Sou fraco, depressivo e tímido
Tenho manias, fobias
E passo dias sem comer
Não que os anjos se alimentem no Céu
Mas você me entendeu

Sou seu anjo viciado em sexo
Necessito de mulheres, homens
Além de tudo sou bissexual
E dizem que os anjos são assexuados
Mas eu fugi a regra
Eu sou um anjo levado

Sou seu anjo hipócrita
Adoro criticar os outros
Mas a minha própria vida
É pior e mais suja que um porco
Lembre-se de que eu deveria dar o exemplo
Eu acho que o universo corre contra o tempo

Sou seu anjo apaixonado
Tenho aquela sede de viver mil coisas
E acaba dando tudo errado
Eu fico encantado quando vejo olhos e sorrisos que brilham
Eu me deixo levar
E acabam me levando
Sou sensível e poderia chorar agora

Sou seu anjo fumante
Adoro tragar minhas frustrações
E acabo jogando essa fumaça
Pelo mundo a fora
Não canso de me indagar
Quem é esse tal de câncer?
Mas isso não vem ao caso

Sou seu anjo humano
Aquele que sente dor, sangra, erra e ama
Sou tão fraco e tão forte
Deveria ter sido feito primeiro
Teria sido mais celestial
Mas Deus me ama assim
Ele me jogou aqui para viver e aprender
Eu comecei com erros e já cometi alguns acertos

Sou mais um pedaço daquilo que foi feito aqui
Estou entre tantos
Somos seis milhões
Somos filhos do Homem
Mas pode me chamar de anjo
Pois todos nós um dia conseguimos voar 

domingo, 19 de junho de 2011

Não precisa vir se não for pra ficar pelo menos uma noite e três semanas...



Quando amanheceu um dia desses, eu vi no céu vários sorrisos, vi nuvens e vi espelhos. Como explicar a ausência que senti? Eu vi o mais belo e não te vi. Gostaria de ter esperado mais, gostaria de ter tentado, mas quem iria cuidar de mim depois? Eu já não conto com o mesmo suporte de antes. Eu ando caminhando há tempos demais e não chego a lugar algum. Há quem diga que o caminho certo quase nunca é encontrado, mas sim vivido. Eu estou vivendo algo e não sei bem apreciá-lo. 

Ela anda por aí, caminha dias, vaga por estradas e não entende seus passos, eu sei. Eu queria poder fazer algo, queria poder dar outro sentido à realidade dela, mas quem disse que ela quer? Ela ainda não abriu os olhos, ela está presa dentro de um túnel e ninguém pode tirá-la de lá, só ela mesma. Ela é tão linda, tão rainha, tão impávida, tão crescente! E me encara como sua inimiga mortal, como uma doença contagiosa, como um cavaleiro do apocalipse. Eu estou aqui, de braços abertos, de olhar fixo nela e pensamento constante e isso ela não pode ver. Me explica ,vida, então, porque ela só se joga para quem corre dela, porque ela persegue aquilo que não a quer? É esse o ciclo, é essa a jornada e nada mais? Tropeços, empurrões, escoriações, lesões, fome, muita fome e quase nenhum prazer? Acho que a nossa satisfação vem do fato de nunca estarmos satisfeitos.

Eu queria um dia inverter todos esses sentimentos e multiplicá-los por novas emoções e talvez assim, nascesse um novo mundo, com pessoas menos amarelas e mais reluzentes. Está tudo fosco demais. E que olhares cinza eu encontro em meu caminho! Será que ninguém mais enxerga o mundo, será que ninguém mais encara o mundo com a alma? Será que a apatia se tornou algo tão perverso em nosso cotidiano que nada mais exprime vida? Os sonhos foram alterados, dormimos para não ficarmos acordados e só. Os sonhos se transformaram em pesadelos e eu já não tenho mais lágrimas para chorar. Eu forço um choro, bem baixinho, bem recolhido, bem tímido e ainda assim, eu consigo sentir. 

Eu encaro minha humanidade como um privilégio de não abrir mão de existir e viver respectivamente. Eu estou aqui e não abro mão de estar, nem quando minhas ulcerações internas começam a me devorar. Eu só queria poder voar, mas queria voar no céu dela, apenas viajar meses, desaparecer vidas, e esquecer o que aqui não é tão bom. Ela faz isso comigo e queria poder fazê-la sentir o mesmo. E ela nem fala mais comigo, e ela nem me escuta mais e nada eu fiz, apenas aceitei gostar dela sem evitar. Que atire a primeira pedra quem nunca gostou de alguém que precisava ser gostado. Eu gosto como eu gosto e vou ficar gostando, pois eu quero e me importo. O que ela pensa é problema dela. Com os dias que virão, ela vai aprender que nem tudo na vida dá para controlar, mandar e mudar. As coisas são como elas têm que ser.



"Eu sei por que você fugiu, mas não consigo entender..."

domingo, 12 de junho de 2011



Alguns segundos do chão

Você ainda me procura
Me busca
Mas nunca me segura
Me deixa avulsa
Me deixa confusa
Me deixa contaminada
Pela sua essência impura
Mas só ela me cura
Me desvia da loucura
E eu não consigo me emancipar

Eu tenho a força de dois braços
Mas é sempre com as minhas pernas
Que acabo indo atrás do seu rosto
Só para pedir mais uma fotografia
Um registro da sua face
Do seu sorriso
Qualquer coisa sua
Que me afaste
De toda maldade que quer subir em minhas costas

Você não pode querer ser para mim
Algo que de fato eu não sou para você
Você quer manter as coisas assim
E quase nunca sabe o que fazer
Não se pode mandar naquilo que tem vontade própria
Ou você voa comigo
Ou fica apoiada em qualquer coisa que te tire por alguns segundos do chão
Eu te dou dois dias, um sorriso,
Minhas mãos e meu coração
É só você me acompanhar

E o nosso tempo está correndo
Pensar demais
Pode ser letal
Pode ser a chave do conflito
Ou talvez o tratado de paz
Mas eu não queria passar mais nem um minuto
Longe da alegria que só você me traz.

Canção feita para o "Dia dos Namorados", mas fugindo um pouco do clichê da declaração, enfatizando apenas as ideias, as vontades e as constantes divagações. Não é um mero dia que mede o tamanho e nem a intensidade dos meus sentimentos. Parece um pouco masoquista da minha parte, mas eu ainda acho que amar vale a pena e eu ainda amo muito aquela mulher. 



quarta-feira, 8 de junho de 2011

Eu já não busco mais a sensatez, ela me mandou embora.



Vendaval

Você olha nos meus olhos
E busca uma fogueira
Mas talvez eu já não queira incendiar
Quem sabe um outro dia
Eu lhe traga uma resposta
Mas acho que hoje não posso mais falar
Sei que o desânimo não combina comigo
Mas hoje eu acordei pra dissonar
E de quem somos filhos mesmo?
A família já não mora mais no mesmo lugar

Eu trago novidades
Tenho histórias em um baú
Mas acho que ainda não posso conta-las
É que mundo hoje amanheceu ao contrário
E certas palavras poderiam machucar
Talvez não possa mais voltar pra casa
Você pode, por favor
Vir aqui agora e me abraçar?

Eu tenho tanto medo
Dessa dor se eternizar
E pra quem correremos?
Não temos mais um lar
Eu quero encontrar
Qualquer refúgio
Onde minhas ideias não possam me mutilar

E você aqui
Vem pedindo
Pra eu ser mais forte que esse peso
Mas só sabe o que é um furacão
Quem se perdeu entre o vendaval
E apenas por hoje
Eu não desejo me encontrar

Eu vou ficar aqui
Esperando Deus se lembrar
A razão pela qual eu vim parar aqui
E se você quiser
Pode me acompanhar

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tão fácil perceber que a sorte escolheu você e você cego, nem nota. (imbecil)



Tudo aquilo que somos agora ajoelha-se diante de nós. Bendita miséria espiritual! Ficamos a míngua com a solidão e esperamos que ela venha nos fazer companhia. Será que ela vem? Somos tão caprichosos e tão ordenamos e onde será que deixamos nossos sapatos, nossas toalhas, nossas dignidades, nossos batons quebrados?

Somos tanta coisa e nos sentimos cada dia que passa, mais vazios e desorientados. Onde está a nossa bússola interior? Onde está o GPS para nos orientar? Estamos jogados à nossa própria sorte e isso é incerto. Gostamos sempre de procurar o que está longe de nossas mãos só para termos o trabalho de ter que ir atrás. Nesse caso a nossa acomodação fica de fora, esquecida. Por que gostamos de nos torturar tanto assim? O que há de errado com todos nós? Por que não sossegamos? Essa inquietude me deixa agitada, dispersa, confusa e levemente apaixonada.

Estou querendo trazer para mim o cachecol perfeito para enrolar no meu pescoço e eu ainda não sei como fazer para tê-lo em minhas mãos. De tão simples, essa busca se tornou algo complicado por demais, pois mexeu com algo dentro de mim, lá no fundo e agora fica muito difícil me separar de tudo isso que está vivo dentro de mim.

É para eu me lamentar não ser o cromossomo XY? Jamais! A minha graça está no meu cromossomo XX, é isso que me torna tão especial para todas elas, apenas por que eu me importo, por que eu posso, por que eu tenho, eu sei como fazer, eu sei como estar lá, como chegar lá e como ficar também. Eles não sabem, eles dão cabeçadas, eles tropeçam, eles desperdiçam a melhor coisa que eles poderiam ter: a atenção de uma mulher. Eu não odeio os homens, mas os considero extremamente inferiores na maioria dos casos, exatamente pelas suas proeminentes burrices, respectivamente falando. 

Como pode um ser tão humanamente abençoado não dar valor a aquilo que foi feito biologicamente para encaixar em seu corpo? E o pior é que a maioria não sabe desfrutar bem desse poder de encaixe. A vantagem é que as mulheres estão acordando e estão deixando de ser mulas; estão olhando para o lado e segurando a mão de quem lhes dá assistência. Mas convenhamos, mulher gosta de ser pisada e isso as torna dez vezes mais burras do que os homens. 

A minha divagação de hoje é simplesmente chegar dentro de mulher especial, doce, inteligente, juvenil, única, engraçada, suave, inquieta, efusiva, linda, carinhosa, sensível e aquela que eu não consigo esquecer. 
É estupido demais observar alguém que tem a chance de tê-la todos os dias e não agradece a Deus por isso, sequer aproveita essa chance. Parabéns, campeão, você é um bundão!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sou meu próprio líder: ando em círculos, me equilibro entre dias e noites. Minha vida toda espera algo de mim: meio-sorriso, meia-lua, toda tarde.



Minha língua às vezes tem sabor de terra, minha vida é aliada e inimiga, ela vive em guerra, e as trincheiras são os meus sonhos. Meus olhos cansados são velhos conhecidos, são companheiros distantes, são estradas cor de laranja. Os passos que dou às vezes me levam um pouco para trás, mas ainda assim estou sempre adiante, estou sempre lá na frente e quase nunca encontro alguém. Essa minha solidão é passageira, é tão efêmera quanto um bocejo, é coisa de segundos e ainda assim, fica eternizada na natureza. Eu sou da natureza. Eu me misturo com os grilos e com as vespas e não me perco ao me desencontrar, apenas desapareço e logo apareço lá. Sou cascavel, sou rã, sou tijolo, sou construção. Sou ave, sou coração e não consigo abrir meu armário. Tenho amigos invisíveis, tenho papéis de parede de cores indefinidas. Abro os meus braços e dentro deles muitas vezes só passa o ar. Onde foram todos? Onde é o último andar? Quem vai me buscar? Quem vai me abraçar?

Eu tenho o meu sossego, eu tenho o meu abismo. Minhas fobias são alinhadas e tem cheiro de eucalipto. Meus pés tremem sobre superfícies turvas e se despedem do solo com passos ritmados. Eu não sabia de nada, mas ardia por ignorância. Meu conhecimento era saber fingir que eu sabia alguma coisa. E pensar que eu tinha medo de escuro, de altura e de pessoas indispensáveis. Hoje eu simplesmente me despeço de tudo aquilo que me faz bem, pois não sei ao certo quando não mais os terei. Tudo que é bom acaba como um clarão de um relâmpago. 

Tristes são os dias que se mostram sem fim, arrepiam o corpo na altura na espinha e nada transformam nossas vidas. Vivemos a vida a base hipóteses e conjecturas muitas vezes falhas, incabíveis e que nos dispersam dos nossos objetivos principais, que são simples assim, como a felicidade. Atingir a felicidade é quase como cortar o próprio corpo, é como tentar ferir a si mesmo para encontrar algo que anule o que não lhe faz feliz. Autoflagelo nunca foi e nem nunca será solução, mas quem está interessado em soluções à uma hora dessas? A verdade é que no fundo ninguém se importa e isso dói. Isso fecha todas as portas.

As linhas horizontais não mais tem o mesmo formato, o eixo de rotação da Terra não mais se mostra igual. Tudo foi alterado, o sol arde mais que antes e ninguém mais dá bom dia. Corro o risco de não lembrar mais quem eu sou em um desses dias de fúria. Crime e castigo: quem vai se responsabilizar? Quem vai se sujar?

Da altura do céu, só vejo espelhos e pessoas chorando por razões sem sentido. Eu não as alcanço e não me permito viver assim. Eu criminalizo tudo aquilo é deletério, tudo aquilo que não produz algum benefício. Estou apenas querendo rasgar a minha camisa e encontrar a minha querida. 

Três dias e não peço mais nada, apenas uma agulha e um lençol. Não me peça pra ter nexo, não sou coerente na maioria dos casos. Eu sou algoz, sou serpente, meu lado angelical se perdeu quando eu vim para esse mundo viver e arder com os demais humanos. Eu perdi o meu direito de voar, continuo me jogando nos braços do vento, me vendo como pássaro e não alçando voo. Continuo presa em minhas pernas. Meus dedos fazem curva o tempo todo em torno do cabelo dela. Chamaria até isso de carinho, mas não é. É apenas uma dança, a dança dos dedos. 

Cansativos são dias em que nada me faz abrir portas e continuo presa e solta. Temo o fogão de lenha da vida que insiste em me assar. Estou além de qualquer beco, de qualquer edifício, de qualquer promessa, de qualquer vício. Estou na margem de um rio que ferve e de lá não sai nada. As lavas do vulcão dos olhos de magma me queimaram, mas algo em mim se transformou em rocha! Estou dura, rígida. Pobre de mim...

Estou casada com o incógnito, com o inóspito, com o non grato. O aluguel que pago para viver nesse mundo, não me dá o direito de sorrir sempre e eu tenho os meus direitos. Não tenho voz para reclamar.


Eu fui, mas algo em mim ficou.

Corra, meu amor, corra!

domingo, 22 de maio de 2011

Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.




Há um desgaste muito grande na humanidade, a tristeza virou rotina, a depressão virou companhia no jantar. Vejo pequenos momentos de alegria perdidos entre microscópicos irmãos dos grãos de areia de uma praia deserta, em pleno domingo. Quem somos hoje? Como fomos parar tão longe? É fácil notar que não mais nos encontramos. É tudo dor e parece que a dor hoje em dia traz um certo alívio, pois nos tranquilizamos quando percebemos que ainda conseguimos sentir algo, ainda que esse algo seja dor. É o massacre que esse imenso mundo apático fez com nossas pobres almas arranhadas. Houve um tempo em que sofrer era insuportável e as pessoas então resolveram transformar tudo o que sentiam em eterno formigamento, eis que muitas pessoas permanecem assim, castigadas pelas suas próprias escolhas impensadas.

Somos a face de uma população estranha, desconhecida, carnívora e sem união. Não temos mais apreço pelas coisas simples, pequenas e sem importância, que comumente nos fariam muito felizes e isso é só porque hoje temos tudo, o mundo na palma das mãos. Esse domínio, esse poder nos trouxe uma avalanche de solidão, de animosidade, de desentendimentos, de cansaço, de medos. Somos a raça do medo, do desassossego, da ansiedade constante e cortante.

Os pulsos ainda pulsam, os corações ainda batem, os pés ainda caminham, os olhos ainda enxergam, mas as almas ainda sentem? Essa pergunta ainda é sem resposta e será ainda por muito tempo.

São sempre histórias e pessoas distintas que se esbarram e recomeçam uma outra história, mas sempre fica um passado, sempre fica uma página ou um livro todo virado. O melhor recurso da humanidade tem sido o rápido esquecimento, ou o suposto esquecimento. É fechar os olhos, respirar fundo, deitar a cabeça no travesseiro e dormir, dormir e dormir. Muitas vezes quando durmo, eu entro em um mundo não tão melhor que esse, muito mais perverso e confuso e isso em parte, se explica pelas minhas antigas viagens, meus passeios andinos, tão indiferentes, tão gelados, tão alucinantes, que mascararam muitas das minhas aflições e as devolveram ao meu coração antes que eu pudesse piscar. Eu me joguei na jaula junto aos leões e sobrevivi, mas tenho marcas, lutei durante dias incansáveis, mas consegui vencer, mas fato que eu ainda não me recuperei totalmente. Tenho rachaduras, arranhões, mordidas, lembranças e talvez essas doam mais do que todo o resto.


É fácil alegar que nada dá certo se ainda não ousamos fazer não dar errado. E se der, e se não funcionar o segredo é continuar tentando e uma hora, naquela hora, vai funcionar, vai dar certo. O problema é que a maioria das pessoas desiste no primeiro “não” do mundo. A derrota está em não aceitar perder: ganhar é fácil, difícil é saber perder.

Estamos tão desalinhados e ainda insistimos em fazer certas curvas e me pergunto onde vamos parar correndo o mundo em alta velocidade. Os acidentes são tão visíveis e previsíveis, mas não, não os evitamos. Tamanha inconsequência! Tamanha inexperiência! Tamanha humanidade!

Aos poucos estamos partindo, aos poucos estamos morrendo e nos despedindo de tudo isso que nos trouxe. É, irmãos, não soubemos aproveitar o melhor que nos foi proporcionado, não soubemos saborear as cascas das frutas, desejamos sempre o recheio, o centro e o sabor na maioria das vezes não foi dos mais agradáveis. O segredo sempre esteve escondido, nos lugares mais simples e inusitados, mas fomos clichês demais e não nos demos conta. Ficamos cegos e impassíveis diante do óbvio. Fracassamos.

Fica aqui a marca do que eu não soube descrever, tampouco escrever, fica aqui a minha ignorância, o meu pesar, o meu cansaço, e minhas asas costuradas, doídas e já tortas de tanto cair pelos cantos.

Sou um anjo cambaleante com sérios problemas para voar e adoro uma cachaça.

Será que o céu vai me querer de volta?

sábado, 21 de maio de 2011

À fada do dente



Amar às vezes é como uma doença sem cura e ter que carregar essa enfermidade às vezes pode ser cansativo demais, havendo apenas um tratamento que amenize todo esse sofrimento: as distrações. Somos responsáveis pelas nossas escolhas, pelos nossos erros, pelas nossas culpas e pelos nossos pesadelos. A intenção é sempre isentar-se de tudo isso e lavar as mãos, procurar sentir-se o menos responsável e preso possível, mas sim, todos temos culpa no cartório. 

Ela é como um céu que se abre em plena tarde de tempestade, e sorri com a sua meia lua branca, tentando fazer esse mundo louco em que vivemos exalar um certo tipo de paz celestial. Quem é ela mesmo?

Ela dá bom dia e nem sequer acredita em suas próprias palavras. Ela é a imperatriz das contradições. Como pode? Ela ainda não se viu, não se ouviu, não se entendeu, né? Não!

E meu coração não consegue odiá-la por muito tempo e me pergunto por quê. Seria tão mais prático, tão mais favorável a mim e não consigo. Ensaio conflitos, discórdias, incompatibilidades e absolutamente nada brota em mim, só o nefando amor. Estou assim, nos braços do acaso, esperando a próxima enchente me levar, quero ser lambida, varrida, carregada, engolida. Não quero mais e sempre vou querer.

Ela é uma espécie de animal que exprime carência, solidão e um pouco de demência, mas não, em hipótese alguma assume isso. Ela tem sempre que exibir essa imagem de autossuficiência, de imponência, desprendimento e erudição. Essa é a palavra: erudição. Ela quer soar sábia, longeva, sólida e madura. Não é. Simplesmente não é. Ela é um bebê de colo, com suor na palma das mãos, uma timidez esfolante nos olhos e medo, mas muito medo dentro do coração. Mas é segredo, é a sua fraqueza e o seu arpão. Ninguém sabe.

Como Deus pode me fazer ver tantas coisas, ouvir tantas coisas, saber tantas coisas e me deixar nessa impotência do "não poder revelar"? Eu tenho que me agarrar diariamente em meus princípios para que a minha língua não mate a três pessoas ao mesmo tempo. Seria o funeral do ano. 

E nada mais faz sentido se pelo menos uma vez no mês não nos sentarmos e ficarmos lado a lado, vendo o tempo passar, as horas caminharem e nada precisar ser dito, apenas sentido. E temos isso. Ela é o meu demônio no Céu, ela é o meu anjo no inferno. Não consigo deixa-la de lado, pois não há uma separação entre nós. O carinho é mais recíproco do que deveria ser e ao mesmo tempo não é. Ela semeou um planeta de paradoxos em minha vida, como os mesmos que se escondem atrás de suas pernas.

E eu a amo com a força de dez tornados enfurecidos, com o calor de um sol mais que aceso, com a ternura de uma mãe que dá a luz, com a paz de uma manhã na mata, ou simplesmente à beira do mar. Ela é o caos e o sossego, é sim, o amor da minha vida e não, ela não pode ficar comigo, pois não podemos. E se eu chorar, estarei sendo aquela pessoa que eu não devo ser...


Espero que nada seja o que parece agora e se for mesmo que eu não entenda nada, pois as certezas machucam e saber que algo é seu e não poder possuí-lo é de uma maldade...

Até ali...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Sinto muito, ela não mora mais aqui.





Será que as desculpas são sempre sinceras? Será que as mágoas são eternas? Será que dá para apagar com a borracha do tempo, as cicatrizes feitas ao longo da vida, por amores e relacionamentos doentios que mancham toda uma vida? Apenas uma palavra: trágico.


A tragédia está na falta de coerência, no tropeço das palavras e claro, no excesso de carência. Queremos sempre preencher um vazio com aquilo de mais oco que nos é proporcionado. Fazemos um verdadeiro carrossel de equívocos e perturbações mistas. E ainda nos julgamos capazes de amar...


Verdade seja dita, as relações se transformaram em vergalhões enferrujados, nos perfurando a cada noite de frio intenso, nos trazendo o tétano, a febre, o suor,  calafrios,  medos, espasmos e desconforto nas pontas dos dedos.


Vejo em mim, alguém que preferiu abrir mão de sentir certas coisas, por receio de perder a própria identidade, pois sim, era o que me abatia. Os constantes mergulhos, as incansáveis convulsões, o choro preso, e o mesmo frouxo como uma fivela mal encaixada. A perda dos sentidos vinha então disso, da não    
não ausência do espírito de porco que em mim morava, o tal amor mal mastigado, minha indigestão eterna.


Minha obra de arte então, era saber desenhar com uma chuva de palavras cada instante em que fui mal interpretada; mal vista; mal engolida; degustada, eu era apenas um pedaço de carne podre na boca dos abutres. 


Eu subi aos céus do meu próprio fogo morto e inconsequente, nada mais poderia me ferir alem de mim mesma. A minha grande inimiga era eu. A grande descoberta. Eu fui vagando, passando por trópicos e meridianos, linhas imaginárias e sorrisos desalinhados. Não reconhecia quem morava dentro da minha boca, tampouco quem morava dentro de mim. Mas isso foi apenas uma fase, uma fase gelada e levadiça. Agora eu sou das árvores, dos pontais e dos pores do sol.




"Nada disso aconteceu, não foi desse jeito."




Hoje é só mais um dia dos vários dias epifânicos que virão. 

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Um coração divido em dois, acaba não sendo coração nenhum.



"Olha o sopro do dragão", dizia Renato Russo. Os dias e as noites não trazem mais a mesma ideia, nada mais caminha com o mesmo espírito. Todos mudaram e mudaram muito. Caí antes que fosse derrubada, senti no chão a ferrugem e o corte da espada e posso dizer que sobrevivi. Vi meu sangue derramado transformado em leite e matando a fome de tantos. O que de especial eu teria para me tornar alimento em forma líquida? Eu não sei, perguntei a Deus, perguntei ao vão, perguntei aos meus e ninguém soube me responder não. Eu continuei fingindo saber o que de fato não fazia ideia. Sim, eu continuo fingindo.


Seria hipócrita por demais fingir ser alguém que eu odeio, mas certas situações nos fazem perder status no mundo. Eu errei, pois sou humana, mas ir para baixo da cama como um cachorro assustado não é do meu feitio.  Eu congelei olhando para aquelas paredes, pois elas sabiam de tudo, elas me conhecem. Eu temo me perder às vezes entre os concretos. Sou canibal de mim e preciso me alimentar


Hoje já é dia de feira.