domingo, 22 de maio de 2011

Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.




Há um desgaste muito grande na humanidade, a tristeza virou rotina, a depressão virou companhia no jantar. Vejo pequenos momentos de alegria perdidos entre microscópicos irmãos dos grãos de areia de uma praia deserta, em pleno domingo. Quem somos hoje? Como fomos parar tão longe? É fácil notar que não mais nos encontramos. É tudo dor e parece que a dor hoje em dia traz um certo alívio, pois nos tranquilizamos quando percebemos que ainda conseguimos sentir algo, ainda que esse algo seja dor. É o massacre que esse imenso mundo apático fez com nossas pobres almas arranhadas. Houve um tempo em que sofrer era insuportável e as pessoas então resolveram transformar tudo o que sentiam em eterno formigamento, eis que muitas pessoas permanecem assim, castigadas pelas suas próprias escolhas impensadas.

Somos a face de uma população estranha, desconhecida, carnívora e sem união. Não temos mais apreço pelas coisas simples, pequenas e sem importância, que comumente nos fariam muito felizes e isso é só porque hoje temos tudo, o mundo na palma das mãos. Esse domínio, esse poder nos trouxe uma avalanche de solidão, de animosidade, de desentendimentos, de cansaço, de medos. Somos a raça do medo, do desassossego, da ansiedade constante e cortante.

Os pulsos ainda pulsam, os corações ainda batem, os pés ainda caminham, os olhos ainda enxergam, mas as almas ainda sentem? Essa pergunta ainda é sem resposta e será ainda por muito tempo.

São sempre histórias e pessoas distintas que se esbarram e recomeçam uma outra história, mas sempre fica um passado, sempre fica uma página ou um livro todo virado. O melhor recurso da humanidade tem sido o rápido esquecimento, ou o suposto esquecimento. É fechar os olhos, respirar fundo, deitar a cabeça no travesseiro e dormir, dormir e dormir. Muitas vezes quando durmo, eu entro em um mundo não tão melhor que esse, muito mais perverso e confuso e isso em parte, se explica pelas minhas antigas viagens, meus passeios andinos, tão indiferentes, tão gelados, tão alucinantes, que mascararam muitas das minhas aflições e as devolveram ao meu coração antes que eu pudesse piscar. Eu me joguei na jaula junto aos leões e sobrevivi, mas tenho marcas, lutei durante dias incansáveis, mas consegui vencer, mas fato que eu ainda não me recuperei totalmente. Tenho rachaduras, arranhões, mordidas, lembranças e talvez essas doam mais do que todo o resto.


É fácil alegar que nada dá certo se ainda não ousamos fazer não dar errado. E se der, e se não funcionar o segredo é continuar tentando e uma hora, naquela hora, vai funcionar, vai dar certo. O problema é que a maioria das pessoas desiste no primeiro “não” do mundo. A derrota está em não aceitar perder: ganhar é fácil, difícil é saber perder.

Estamos tão desalinhados e ainda insistimos em fazer certas curvas e me pergunto onde vamos parar correndo o mundo em alta velocidade. Os acidentes são tão visíveis e previsíveis, mas não, não os evitamos. Tamanha inconsequência! Tamanha inexperiência! Tamanha humanidade!

Aos poucos estamos partindo, aos poucos estamos morrendo e nos despedindo de tudo isso que nos trouxe. É, irmãos, não soubemos aproveitar o melhor que nos foi proporcionado, não soubemos saborear as cascas das frutas, desejamos sempre o recheio, o centro e o sabor na maioria das vezes não foi dos mais agradáveis. O segredo sempre esteve escondido, nos lugares mais simples e inusitados, mas fomos clichês demais e não nos demos conta. Ficamos cegos e impassíveis diante do óbvio. Fracassamos.

Fica aqui a marca do que eu não soube descrever, tampouco escrever, fica aqui a minha ignorância, o meu pesar, o meu cansaço, e minhas asas costuradas, doídas e já tortas de tanto cair pelos cantos.

Sou um anjo cambaleante com sérios problemas para voar e adoro uma cachaça.

Será que o céu vai me querer de volta?

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