Acabou?
Assim como a chama que apaga e deixa aquele resquício de fogueira para mais tarde... Mas quem vai garantir que o fogo volta? Ela não vai voltar...
Era a transformação da euforia em algo suave, mas absolutamente extasiante, que me fazia entrar em estado de transe, numa espécie de epilepsia que só eu e ela poderíamos experimentar e testemunhar respectivamente. Talvez ela não tenha se dado conta do que fez, mas ela visitou meu interior e deixou algo lá dentro, perdido, que vaga até hoje. Acho que ela deixou algo que pertencia a ela e talvez ela não sinta falta. Não vai sentir agora. Nos transformamos em uma só. Fato. Mas ela é feita de muitas ramificações estranhas, ela não tem um acabamento exato e vive aos pedaços, sem uma definição clara. Ela deve viver se desperdiçando por ai. Ela não se guarda. Um dia ela vai terminar por falta de si.
Lembro que era como uma briga de mundos opostos que precisavam e buscavam a mesma luz e não podiam existir em conjunto, mas separadamente ardiam. Os mundos se machucavam, não se amavam, mas não podiam descansar em planos separados. Eram mundo incompatíveis e dependentes um do outro.
O corpo, a carne, o sangue, o encontro, era tudo explosivo demais, carnívoro demais. Havia muita dor concentrada, muita dor transformada em prazer, em excitação carnal, em orgasmos contínuos e incansáveis; as expressões faciais, as contrações internas, o suores se encontrando. A altura da temperatura dos corpos, era a febre, era um vulcão em erupção. A lava escorria pelos caminhos, pelas vias de ambos os corpos. Fomos transformadas naquilo que somos hoje: rochas.
Era o coito das rosas, eram pétalas de rosas que roçavam incansavelmente uma na outra, gineceu com gineceu e tais rosas eram espinhosas, expeliam veneno e se machucavam, enfraqueciam, fortaleciam-se, enfim, viviam como flores selvagens e entregues. Mas eram entregues ao momento.
O extremo era quando não mais conseguia-se controlar o apogeu de tanto prazer e aquela sensação dominava todo o corpo, toda a mente e mãos e pernas, não tinha-se controle, apenas trabalhava-se instintivamente, podendo trazer o prazer ou o caos. Ainda não sei bem o que fizemos.
Sei que uma vez quis matá-la. Quis dizer no ato, responder a todos aqueles estímulos da maneira mais definitiva. Quis dar a ela tudo o que ela estava me dando.
O que era aquilo?
Ela se pintou nas cores do meu sangue, escreveu sobre os meus lençóis que éramos feitas do mesmo material, material esse que é de péssima qualidade, mal acabado e facilmente encontrado nos subúrbios da vida. Éramos o ponto mais ínfimo uma da outra. Éramos a personificação da sarjeta.
Ainda não me esqueci. Todos os dias as lembranças desse carnaval que jogava confetes e serpentinas em nossas avenidas, vem me visitar e dizer que eu sou tão suja quanto ela.
Talvez tenha me conhecido mais a partir dessa relação, talvez tenha visto algo em mim que nunca tivesse visto antes, o meu passado. Quem eu fui, apareceu de uma só vez na minha frente e lançou-me aquele sorriso cínico, sádico. Eu merecia tudo aquilo.
A mesma espécie.
Aprendo a separar o joio do trigo, o coração do corpo, o afeto do prazer, o amor do gozo.
Que venham mais erupções...
Vênus ajudou e Mercúrio fez a sua parte...
Sou um animal sentimental...
Nenhum comentário:
Postar um comentário