Destituída.
Desambiguada, concisa, mas absolutamente longe de
entender as coisas que seguem assim.
Briguei com as palavras tentando buscar uma frase que me
dissesse o que significa tanto tempo de silêncio, de discordância, de tanta
distância, o vão que segue entre nós e se dilata, se encrespa e ferve por trás
de nossas nucas.
Ainda sinto o vento frio que chega de você aos sábados de
manhã.
Eu lembro que você não quis me abraçar, mas me abraçou
mesmo assim e não conseguiu mais ser a mesma.
Toda carne, todo sacrifício que acorda e dorme conosco,
plantam histórias que assustariam demônios. Ainda não aprendemos a lidar com
nós mesmas e ficamos à margem da esquisitice.
Há um pote de sobriedade que é colocado todas as manhãs
perto de sua cabeceira, para que você lave seus pés e se sinta capaz de começar
seu dia limpa, de baixo para cima, assim, sentindo do chão o que não vem do
céu.
Além de um mar de incoerências, conjecturas, suspeitas,
especulações e dúvidas dos mais variados tipos, existe eu, avessa às
tonalidades clichês que insistem em colorir o mundo.
Talvez por isso o mundo tenha me presenteado com você, a
fim de me fazer adquirir ojeriza ao esquizofrênico, ao inveterado, incomum,
irracional e bêbado.
Teu corpo ébrio, seus olhos de ressaca e sua voz
lisérgica sempre me afastaram temporariamente da realidade inconsciente que
sempre dormiu e fez amor comigo diariamente.
Minhas derrotas conversavam com meus farrapos toda
segunda-feira pela tarde, enquanto eu fingia dormir e abraçava o lado abstrato
da minha paz.
Havia um intervalo sutil que podia com pequenas dobras se
limitar e trazer a mim tudo o que mais quisesse, menos você.
Foi quando então eu desisti de desejar, de cobiçar, pedir
e querer manter a ânsia, a divindade de almejar pessoas.
Caí em mim, caí em ti, caí em nós e fui imediatamente
engatinhando para o lugar mais seguro que encontrasse: meu passado empoeirado,
cheio de correntes, hospedeiros, parasitas e vírus soltos pelo ar.
Não vi a alforria, eu vi as algemas de um calabouço meu e
seu.
Variava de dia para dia, de semana para semana, mas no
fim das contas era sempre a mesma coisa.
A contradição das evidências começavam quando jurávamos
que não faríamos, que não seríamos e por fim acabávamos fazendo e sendo, sem
querer.
A (in) voluntariedade de nossas ações no deixaram diante
de feedbacks que nunca desejamos ter (talvez).
A lucidez mórbida que se jogava sobre nossos corpos e
cabeças pensantes, se disfarçava de receio e assim, hesitávamos nossos impulsos
sempre que nos encontrávamos atentas ao impacto de nossas colisões.
Vinte e quatro anos de estratégias falhas, frustradas decisões que
por fim se desculpavam comigo pelos deletérios que causavam.
As massas que escorriam feito um líquido gelatinoso,
vinham das beiradas da entrada de sua alma. Eu lembro que quis respeitá-la, mas
quando lhe respeito, desrespeito a mim mesma e eu sempre preciso escolher por
mim.
Ninguém lhe quer ali, mas você pega e vai. É bem assim.
Então lhe alcanço, seguro o seu braço com bruteza e lhe
trago de volta ao seu lugar, que curiosamente também é extremamente próximo ao
meu lugar.
O sexo une as pessoas e afasta as imortalidades.
A chave de todo o sangue e de todo o vício foi jogada na
frente de libidos que ainda não sabiam ao certo a hora de se retirar.
A vergonha então quis dizer sua opinião e foi relevada.
O caso é que não houve mais intercessão. O mal já havia
sido feito, cálices quebrados, dívidas impagáveis, olhos que de tão molhados
esboçavam um verde limo e ciclos inesgotáveis.
Sentiu qual é a grande esfera do dragão, a bola de fogo
que queima, incinera, carboniza as emoções?
Nós somos os dragões e destruímos tudo com nossos atos.
Será que haverá uma fênix? Uma ave que renasça do nada
que deixamos, deste resquício de afeto?
Não posso ficar para saber a resposta, mas nos
encontraremos no final.
Há uma luz que irá nos escolher e nos guiar até o fim.
Então fuja, suba, se esconda e não me conte onde está,
pois se lhe encontrar antes da hora, você sabe que não vai conseguir evitar de
estar mais uma vez comigo.
Somos feitas da mesma argamassa fajuta. Embarcamos em
planetas e acenamos para satélites assim.