Barricadas
Eu confesso que perdi o rumo a partir do momento
Em que me direcionei a você.
Bati violentamente nos seus muros de contenção
Nas barricadas e barreiras que serviam pra te proteger
E te deixar imune a contatos indesejáveis com pessoas
como eu
Eu confesso que bebi meu próprio sangue na esperança de
viver só pra mim,
Eternamente mergulhada só em minha essência e mais nada 
Eu quis escrever cada palavra para que enfim pusesse o
ponto final no último parágrafo
Do último capítulo
Mas você pegou minha mão, se sujou com a tinta da caneta
e assinou seu nome em minha vida.
Eu corri milhas, léguas, eu corri cidades pra não
perceber o que já estava tão claro para mim e para você.
E será que adianta brincar de pique-esconde às 18:12 de
uma quinta-feira quente, no fim de tarde, em pleno outono? 
Que carícias eram aquelas que chegavam juntas com suas
mãos e dedos respectivamente?
O que se escondia por debaixo delas? 
Eu lembro que era quase um sacrifício fingir não notar
que eu já era ridiculamente sua,
Como quem não pediu pra nascer, mas se encantou pela vida
assim que deu o primeiro suspiro e abriu seus olhos.
Eu me apaixonei por você em grande estilo e temerosa
decadência.
Não fui capaz de me proteger, de subir para o mais alto
que meus pés pudessem me levar.
Então caí de joelhos, desfaleci sobre teus pés e quis
morar em teu ventre, pois lá era quente e já havia me cansado desses meus dias
glaciais longe de você.
Onde eu quero chegar, você deve estar se perguntando, eu
quero chegar a você, eu só quero chegar a você.
Não existe outra história, não existe outra razão, não
existe mais nada. Há apenas o meu desejo, a minha vontade, há você e há nós
duas, como servas e escravas de um destino que ainda não se resolveu, mas
insiste em brincar com nossos sonhos e tece mantas infinitas de iniquidade com
nossos cabelos que se prendem e se soltam sempre que o vento lhes envolve. Já
não podemos padecer aos ramos da culpa, não podemos nos designar às vontades de
quem nunca quis que fôssemos o que já somos, ou talvez quisesse, mas não nos
avisou.
Há muita incerteza no absoluto, no fato consumado e em
mim e em você. Somos qualquer coisa que não se explica e ainda usamos
nomenclaturas vãs que nos fazem prisioneiras de nossos próprios caprichos,
medos e inseguranças. 
Nascemos para brindar o descabido, o sem uso, sem
explicação. Nascemos para jogar sobre as cabeças o nosso veneno e mel que de
tão doces, se confundem no sabor e efeito respectivamente.
Em meu coração fez-se um calo, deu-se um estalo. Você não
viu? Abri a porta lateral da razão e deixei escapulir as rajadas de vento do meu
desespero, da minha ânsia e assim em seguida, deixei escapar a minha fome de
você. 
Eu comi você, te devorei em seus traços, em seus
brinquedos, em suas comédias, em seus pecados capitais. 
Lambi suas vísceras, abracei seu colo, me fiz infame
juntando suas veias às minhas.
Colori nossa plenitude. Deixei sangrar vazio o mundo que
não estava pronto ainda para nos receber. 
Amei você. 
Quis me entregar, mas pisei no freio, pois duas entregas
de uma vez, poderiam abalar estruturas de uma vida que já estava ruída. 
Agora já passou.
O que havia de ser dito, foi regurgitado pelas entradas
da minha garganta, pelo meu estômago atormentado e por algumas cavidades
hiperativas do meu coração. 
Aconteça o que acontecer, minha bela, nós somos livres
para ir onde quisermos. Não há o que possa nos prender e eu te digo isso
assinando a sua e a minha alforria. 
Eu quero mergulhar no mar das certezas, sem ter que me
afogar no rio da desilusão. Beberemos a água da fonte do esquecimento, mas por
último vamos nos jogar no lago da memória. 
Eu ainda não estou a fim de te esquecer e sinto que não
foi pra isso que fui feita. 
Meus desenhos começam e terminam nos movimentos de seus
pequenos e indefectíveis dedos. 
Estou ligada a sua energia e só apagarei uma vez que te
puxem da tomada. 
Só pulso quando você pulsa.
As linhas que demarcam as fronteiras dos meus territórios
foram apagas e você me invadiu.
Estou sendo dominada, conquistada, agora já era.
Acabou-se.
Não mando mais em mim.
Foi bom enquanto eu tinha as rédeas de minha vida em
minhas mãos. 
Não posso mais me livrar de você uma vez que estou dentro
de ti. 
E eu aceito todo prazer e toda a dor.
É por uma causa.
É pela nossa causa.
Amor, eu já estou aqui. 
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