sábado, 15 de junho de 2013

Guarda-roupas particular

Nunca se sabe então
Quando será a última vez
O frio vai percorrendo a espinha
Deixando seus rastros de medo
De sentidos não usados por corpos
Que se disfarçavam de algemas
Traída ilusão
Vontade de não se deixar separar mais
Invisível liberdade
Decaídas em versos
Múltiplas facetas e o espírito em desordem
Você sem juízo
Acenando e sorrindo pra mim
Como quem já sabe o fim da história
No meio do milharal
E foi lá que te amei pela primeira vez em sonho
Te despi e coloquei tuas vestes em meu guarda-roupas particular
Alinhei nossas ideias
Amarrei nossas costas
E uni nossos seios
Lhe penetrei pelo meio
Cacei teu fundo
Capturei teu recheio
Hoje sinto teu mais puro gosto
O teu suprassumo saboreio
Foi só um dia de loucuras
Foi um dia de veraneio
Belas curvas encontrei em tuas estradas
Minhas vaidades tão turvas
Me fizeram me identificar em tuas entradas
Enverguei meus caprichos
Acenei para a covardia
Você não viu
Sentei sobre a calçada dos apaixonados
E desenhei mil corações abandonados
Voando sem destino
Presos a sentimentos que já haviam partido fazia tempo
Enviei ao mundo minha resposta
Continuei indiferente aos casulos emocionais que se abrigavam em minha alma
Quis ser só tua
A ponto de não ter mais pelo que existir
Quis me dar nua
Pra que você não pudesse mais resistir



quinta-feira, 13 de junho de 2013

Então, ela é linda, me lembra rios de flores perfumadas que se jogam suavemente sobre minha cama, afim de fazer amor comigo até que eu perca as minhas forças. Ela me chama de amor, e eu despejo sobre a mesma, a minha máxima concentração de vida, desejo, meus intervalos de loucura, meu prazer e o que eu joguei fora das minhas temporadas de solidão. Meu inverno sutil e frio, minha primavera de flores vivas de Amsterdã, meu outono de eucaliptos e meu verão de brasas e magmas.
Ela mostra para mim a dimensão de literatura que nem os grandes poetas, romancistas e dramaturgos poderiam escrever. Nos olhos dela e na ponta de seus dedos, ela vê e tateia em alto relevo as minhas cartas, meus versos, minhas poesias que vagam e divagam sob minha pele, e que se misturam às minhas veias na intenção de seguir até meu coração.
Bebo sua vida nas breves poças que ela derrama em minha boca. Ela hidrata a minha sede, a minha necessidade por diversão, vida, afeto, proteção. A loucura dela me fortalece, me da a espera, a continuidade. Não vejo o que vem de dentro daqueles olhos que lançam a mim seus mistérios. O seu olhar é um trabalho de parto, ela pare pelos olhos e deles nascem a expressão mais linda que já vi.
Quando mergulho naquele lago de palavras que não estão preparadas para serem ditas, eu deixo a correnteza me levar, pois sei que de alguma forma perversa e visceral, irei parar dentro de seu túnel, de seu corpo, darei volta em torno de coração, para quem sabe assim, um dia ela me convidar para entrar.
A lua que nos olha, lança um fogo que queimaria até o sol, pois nós duas somos astros e rainhas, somos maiores e mais intensas. Engolimos as certezas e desperdiçamos o tempo para que ele se nivele a nós.
Cantamos canções que ainda nem sequer foram escritas, conhecemos o futuro, pois o farejamos de antemão. Nossa ligação é mais que cármica, é celular, estamos no mesmo grupo, na mesma viagem sem direção.
Não gosto de brincar com palavras que se levam a sério demais, pois elas seriam capazes de me cobrar atitudes e verdades que ainda não foram transcritas para o papel de nossa relação. Entretanto, o que vem de mim e sai, vai até ela e me beija, me lambe e me joga no chão, de joelhos, para que eu sacie sua libido, é aquilo que o mundo aprendeu a chamar de amor. O meu amor é meu, é dela, é nosso e ninguém jamais seria capaz de vê-lo, tocá-lo, senti-lo, porque ele é feito sob medida. Esse amor tem nossas cores, nosso DNA, nossa saúde, nossa arte, nossa morte.
Não a quero presa a mim, eu a quero livre em mim, para que sejamos uma só, sem misturas, apenas um fato, uma constatação infame, dispersa, lunática e vulgar.
Nossos arroubos exibem esferas que giram e nos encantam. Meus sentimentos de fraqueza vegetam e dormem nas mãos dela.
Somos colibris em voo livre, de mãos dadas e suadas. Nos desprendemos da realidade como libélulas e abraçamos o mundo como leoas.
Se posso viver com ela assim, que outro tipo de vida, poderia eu estar interessada em viver?

Essa resposta ainda não foi criada. 

domingo, 9 de junho de 2013

A flor

O que foi, flor?
Se deixou anoitecer por baixo desse manto negro?
Engoliu a poeira do tempo?
Ficou no ostracismo e agora quer falar de morte?
O que houve, flor?
Sentiu na ponta dos dedos os calos afetarem seu tato?
Vagou no frio do inverno da solidão?
Esperou nas horas um intervalo que lhe preenchesse os minutos?
Virou pétala sobre pétala
Quis murchar ao meio-dia, desceu sobre os braços de seus talos
Caiu em desgosto
Lançou ao mundo uma novidade. Gritou e reuniu a todos: chamou seu deus mor.
Pulsante gineceu que deu a vida outras cinquenta flores
Hoje está no extremo do abandono.
Livre sobre o pomar e sob o céu que joga as suas gotas de compaixão
Amou a derradeira, amou a inesquecível, amou a mim.
Transferida da dimensão dos loucos
Veio me encontrar e pedir abrigo.
Lhe evitei, fugi de seus olhos, mãos, garras e línguas.
Fui seduzida pelo canto, pela voz e pelo cheiro.
Ah, flor, por que veio parar aqui?
Como me encontrou?
Houve peregrinação da parte de suas raízes?
Onde ficou instalada em você a moral que lhe fez planta?
Vivia entre os caminhos agonizantes, em belos jardins artificiais.
Uma lágrima em forma de orvalho lhe escorreu ramo a baixo
Mudou seu entardecer e camuflou velhas feridas.
Espinhos que mal podados destruíram seu coração frouxo e desusado
Maquiada durante várias e intermináveis primaveras
Quis por fim ser bem-me-quer e mal-me-quer nas mãos de jovens românticos frustrados
Ousou cobiçar o suicídio e durante as ventanias espatifava suas doces pétalas no chão.
Foi ficando feia, foi envelhecendo e conhecendo a dor da falta de saúde.

E então não restou mais nada, mingou, dobrou-se e ressecada jurou ter conhecido o amor, Mas não soube responder quando o beija-flor veio lhe perguntar por que ela então havia morrido sozinha. Ela, flor calou-se para sempre e eu também.