sexta-feira, 27 de julho de 2012

"(...) Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir e rir."

Mais um dia, mais um ano, meses jogados, dívidas existenciais atrasadas e eu continuo sem você... Sabe como? Continuando... Não há um lamento, uma tristeza, um vazio, um eco, há apenas as reticências, os espaços, a não pontuação que ficou em algo que eu nunca soube muito bem nomear.

O que eu via em você, era um fogo, uma chama, um maçarico. Eu não via festa, fogos de artifícios, purpurinas, nem nuances de cores mágicas, eu apenas via seu rosto, via o reflexo que ele esboçava quando encontrava o meu rosto. Disso eu lembro com perfeição, como se fosse exatamente agora...

Eu juro que não imaginava nada, ainda que já estivesse tudo explicitamente anunciado diante dos olhos do mundo e talvez até dos meus. Eu nem sequer quis reverter nada, nunca quis que as coisas deixassem de ser como de fato eram, pois poderia alterar o nosso paladar e isso não seria poético. Será que você me entende? 

Talvez, é bem provável mesmo que nunca lhe possa dizer tais palavras que estão costuradas há meses em minha garganta, mais que isso, estão tatuadas no meu coração, em cárcere na minha memória. Há algumas semanas andei vomitando meu orgulho e vivi a amnésia no meu ego para que tudo pudesse enfim se esclarecer dentro de mim, para que assim eu jogasse toda essa verdade para você. 

Você não vai saber hoje, nem agora, mas quem sabe tudo mude... Eu antes não sabia, ou não queria saber, era muito cedo, era muito tarde. Meus ossos doíam, minha carne sangrava, e eu escorria, eu ardia, era tudo febril demais, intenso demais e não  cabiam tantas efervescências na palma de sua mão, assim, de uma vez só.


Não sei bem ao certo se nas vezes em que deitávamos lado a lado na cama, em que nossos corpos se tomavam por uma quentura inflamável, que nos causava aquela combustão instantânea que quase carbonizava nosso juízo, se você conseguia absorver a verdadeira temperatura de tudo aquilo que estava entregando a você. Havia muita magia, muita intenção, muita vida, muito de mim. Eu fui me entregando a você aos poucos e fiquei tão pequenina em mim, que quando nos apartamos, eu quase não existia mais, estava tudo aí, com você. 

Eu fui a vítima mor do meu orgulho, da minha podre vaidade e quis mostrar a você toda a carniça da minha alma, fui ao meu ínfimo, quis lhe causar as mesmas sensações que eu propriamente já estava sentindo e foi tudo inútil. Nem sequer lhe arranhei a pele, que dirá o coração. Era inoxidável, ou pelo menos a sua blindagem era melhor que a minha. Eu fiquei pelo caminho e você seguiu o seu, do seu jeito, na sua ideia fixa e eu repudiei seus passos com cada centímetro do meu ser amargurado.


Será que você viu? Será que alguém viu? Eu quis esconder, não sentir, não mostrar, sequer pensar. Não queria que fosse e me convenci por um bom tempo que não era e talvez não tenha sido, não sei bem, eu não sei! Ahhhh! Tá vendo? Você me confunde até hoje, sua sádica maldita, esquisita, louca e que sabe-se lá por que é a mulher que eu amo e que de tão excêntrica, absolutamente atípica, é linda demais!

A gente descobre o que é amor, quando passa a amar alguém pelos seus piores defeitos. E eu vi a carniça da sua alma também e quase fui jantá-la. Mas eu fiz tudo errado, gata, eu me perdi, me transtornei. Não conseguia conceber a ideia não lhe ter mais, pois eu sabia de alguma forma bem distorcida e obscura que eu seria sempre sua, e provavelmente esse sempre seria muito longo, tão longo que nove meses depois nasceu, hoje está em meu braços e tem seu nome...


Posso falar agora? Já está na hora? Então lá vai... Eu te amo, porra! 

E você nem vai saber isso, talvez porque não mereça, talvez porque algo cale minhas palavras antes que lhe encontre, ou porque alguém me distraia, me impeça de lhe jogar mais uma vez essa verdade inacreditável. 
Não sei, não vou lutar por você e nem por esse insistente amor, mas também não impedirei-o de existir dentro de mim, pois reprimir um sentimento tão torrencial poderia causar o esmagamento de minha razão.


Eu sei lá, mas quero que você seja feliz, assim como eu também desejo ser feliz. Eu morro de medo de você e do que você me fez sentir desde o começo. Não é estranho? Não é gozado? Logo eu, a destemida Michelle Valle, que já viu o inferno várias e várias vezes, que luta contra seus demônios, ter medo logo de uma garota como você que aparentemente não oferece perigo algum a este plano astral? Você me mata de medo, me arrepia, invade meus sonhos, como um bicho-papão. Os medos que adquiri na infância, na minha fase adulta, foram inteiramente transferidos para você. Seu nome é o som que me assombra até hoje. É como se antes de chamar qualquer pessoa, o seu nome chegasse na frente. Você está vendo? É surreal. 

Poderia parecer uma obsessão, um transtorno, uma psicose, mas não é, pois estou aqui pensando, me distraindo, me cuidando, me elevando. Sinto o que tenho que sentir, por quem tenho que sentir, na hora certa e pronto!


Linda, preciso ir, preciso terminar esses dizeres que parecem ser na maioria das vezes infinitos. Se algum dia, qualquer coisa não der mais certo na sua vida, como um sol que venha nascer mais escuro, uma noite que tenha menos estrelas, um mar que não se renove, uma lua que não brilhe, lembre-se que no mundo ainda há alguém que pode reverter cada uma destas situações e ainda pode te levar para a via-láctea, assim, num piscar de olhos. Apenas usarei o poder do que sinto se você aprender a sossegar, você irá ver e sentir cada dessas palavras. Eu ainda tenho esperança em você. 


Sei que o tempo que nos foi proporcionado foi absolutamente curto para qualquer coisa aparentemente, mas ele foi o suficiente para que eu visse algo em você e sentisse exatamente essas coisas que hoje narro. 



Apenas isso...


"Eu gosto das pessoas pelo prazer de gostar e não porque deu tempo de gostar delas."


"Se ela te fala assim, com tantos rodeios
É pra te seduzir e te ver buscando o sentido
Daquilo que você ouviria displicentemente 
Se ela te fosse direta, você a rejeitaria."





quarta-feira, 18 de julho de 2012

"...Sem carinho, sem coberta, num tapete, atrás da porta..."

Pois bem, ainda não sei como, talvez duvide de tudo que me cerca, inclusive de mim mesma, mas quero ainda descobrir que porra é essa! Não faz sentido, me irrita, está tudo junto, misturado, aglutinado, me encanta, me enjoa, me eleva, faz de tudo comigo, mas não me deixa entender. Preciso de respostas e já!


Começo a procurar fora de mim indícios de um lugar, um caminho que me leve para aquilo que dentro de mim se escondeu, quero ver pelo mundo a fora, onde anda o pedaço meu que saiu para comprar cigarros provavelmente e nunca mais voltou. Eu estou fadigada de estar aqui e não permanecer em lugar algum. Não são dramas, nem complexidades trazidas por mim, apenas estou buscando a verdadeira Michelle A. Valle nessa confusão que chamo de vida.


Hoje pensei, engoli a seco, deixei as lágrimas correm minha face a baixo e descobri que há muito mais para ser arrancado de dentro de mim do que imagino. Há um acúmulo de ideias, esperanças, sonhos, lembranças, passados e mais passados. É como se no fim, nada e nem ninguém fosse embora de verdade, a vida e a juventude dos corpos se vão, mas o arcabouço fica dentro de mim, se fossilizando, e quando vem a primeira leva de terremoto emocional, tudo vem a tona, inclusive o miasma dos cadáveres que levaram um bom tempo para entrar em decomposição, até chegarem aos ossos, fósseis enfim...


Como não podia saber pelo que chorava, ou o que lamentava? Ora, a melancolia era minha e eu tinha o direito de deixa-la passear por dentro de mim, como a mesma sempre fez. Queria ao menos saber se ela tinha alguma novidade dessa vez, pois me cansei das incógnitas, dos mistérios, das esfinges apresentadas a mim, com a mais clichê das frases: decifra-me ou te devoro. Eu devorei a minha ânsia de querer saber mais do que me era permitido de fato. Eu me engoli.


Parece fácil e é, mas não é tão prático assim. Tudo tem um peso diferente quando se analisa pelo ângulo interno, como eu. É meio que assim: quem está de fora, banaliza, faz pouco caso, não vê relevância e julga ser capaz de passar por certas situações sem pestanejar. Já quem está pelo lado de dentro, sua frio, treme na base, pensa em mil maneiras de trabalhar as ideias, de contornar, mudar, superar, de fazer tudo de uma maneira onde a dor seja inexistente, ou suportável e que o sucesso seja o cume da montanha, mas sabemos que quando estamos no começo da escalada, a montanha sempre cresce. A força é uma coisa que precisa vir de dentro e ela só virá, quando não mais tivermos aquele repertório de desculpas prontas e esfarrapadas, para tentar justificar aquilo que muito bem não flui. A gente só vai pra frente, quando não nos resta mais outra saída, senão andar, ainda que a força.


Somos seres conformados e mimados, estamos acostumados a acreditar que as coisas irão se ajeitar sozinhas, mas não é bem assim. O que acontece é que se você não faz, alguém mais bem disposto fará, sendo que a ação deste indivíduo poderá ou não lhe ser aproveitável, e poderá assim lhe causar deletérios. Portanto não é bom arriscar. Eu costumo ver pessoas inertes (como eu), que por permanecerem grande parte das vidas delas esperando as coisas que mais querem, cair do céu, quando não obtém o "pomo da discórdia" desejado, acabam culpando as circunstâncias, que coitadas, são paus-mandadas daqueles que sabem arregaçar as mangas e trabalhar as suas vidas, por medo de morrerem  na inutilidade.


Está vendo? É fácil saber o que me falta, difícil é entender por que ainda não fui lá mudar as coisas, virar tudo de cabeça pra baixo e me tornar rainha de mim. 




Eu sou um ser absolutamente estranho que ainda não aprendeu a lidar consigo mesmo. Neste plano, os sentimentos e as sensações são muito mais fortes, são intensas e coisas pequenas, de baixa importância, parecem a explosão de bombas atômicas dentro de uma casa na árvore. 


Eu penso que poderia enlouquecer, mas acho que já nasci louca.




E que Deu me ajude hoje e sempre.




Procuro por fim, um mundo onde as pessoas sejam de verdade e não tenham medo ser assim, reais.



terça-feira, 10 de julho de 2012

E respira sob a minha pele, deita, dorme e acorda escondida em algum lugar do meu corpo que ainda não pude identificar. Ainda está aqui e prefere brincar de se esconder, tem medo de ser descoberta.


Nos meus dias mais afins vem me mostrando que eu não tenho domínio sobre meus sentimentos, esses vão e vem e não me dão nenhuma explicação...


Quanta coisa ficou aqui, guardada, um grito preso, uma lágrima foi parada, um sangramento estancado e a Michelle foi interrompida, ficou pela metade, no meio das horas querendo dizer e lhe levaram as tais palavras. Hoje ela se procura, se questiona e ainda não tem a sentença, a resposta, o nome do seu problema. É tudo tão instável, tão inconstante e ela quer ser permanente, ela quer se estender e nada é contínuo em sua vida, a não ser as expectativas quebradas, o laços desfeitos, transformados e nós cegos que impedem a circulação das suas emoções e lhe causam gangrena na alma... E assim ela acaba tendo pedaços do seu coração amputado...


Eu preciso de tempo, de tempo do tempo, para as horas, os minutos, para que os meus ponteiros se encontrem, se entendam enfim. Tudo está na mais perfeita ordem agora, mas subitamente pode deixar de estar e aos poucos vou me preparando para os colapsos da vida. Tudo para mim tem peso diferente, sabor diferente, aparência diferente e não é porque eu escolhi isso, nunca quis me fazer "especial", mas naturalmente, espontaneamente, eu sou diferente e isso tem me regido desde a minha formação...


Estou no meio do caminho, olhando para a estrada, há uma bifurcação, há destinos a serem escolhidos, mas não tenho pressa de nada, pela primeira vez, eu quero ir devagar, quero sentir em meu corpo, a energia, a vivência de cada passo dado, seja para onde for, não quero escolher um caminho, eu quero viver plenamente a minha história, quero me enxergar em cada esquina, em cada curva. Eu preciso e muito de mim, só agora me entendo mais, pois me dignei a me conhecer melhor. Quero ir pra qualquer canto, mas por enquanto, vou dando voltas por aí, para conhecer melhor a região. 




Vale a penar se permitir, vale a pena viver para si. 




Estou aprendendo a respeitar o meu tempo, os meus momentos. Cansei de viver de urgências...



quinta-feira, 28 de junho de 2012

O meu coração suburbano espera riquezas maiores...

Mas eu nunca te esqueci...


Estou com meu coração amarrado em volta do cipreste, nas curvas do meu quintal e ainda não amanheci, apesar das horas...


Lembro que ainda guardo, mesmo que bem lá no fundo, uma centelha, uma faísca, que a qualquer momento pode causar combustão instantânea, se misturada aos gases que saem do meu pensamento. Não, ela não se foi. Parece que dormia, estava em coma, dopada, no calabouço em que a pus para continuar a viver meus dias em paz. Não, ela não me dava a paz, mas que paz me preencheria, se longe daqueles tais conflitos que viviam com ela, minha vida não esboçava emoção alguma?


Eu tremia e temia, não sabia desenvolver nada, tampouco lidar, porém tentava, insistia e não podia mais continuar. Se a guerra já estava perdida, para que então lutar? Eu era um soldado perdido, com fome, sem aliados, era desertora de uma batalha que se iniciou dentro de mim e eu nunca soube explicar como todo esse caos se originou...


Ela não tinha um belo olhar, não me ganhou com seu sorriso, suas palavras, seus versos, em nada lembravam poesias, ela era absolutamente sem graça, estranha, desinteressante, meu avesso em todos os sentidos, no entanto dentro dela tinha um livro sobre como me enlouquecer e devo dizer que ela havia decorado cada palavra do mesmo, pois até hoje, me vejo habitando manicômios emocionais...


Ela me enlouqueceu, não por seus predicados, não por sua decência, personalidade, pelo seu corpo, ou pelo pseudo-amor que nutrira por mim, mas ela me enlouqueceu, pois era louca e apreciava a loucura. Ela conseguiu incitar em mim a dependência pela violência, pelo despudor, pela fadiga, pela lamúria, pela sujeira, pela mentira. Eu e ela éramos fies residentes da mesma sarjeta e penetrávamos uma na outra como sanguessugas, nos alimentávamos uma do sangue da outra e ficávamos ausentes do mundo...


Ela tão ariana, com sua alma de marinheiro, facilmente podia e conseguia desprender-se de todo e qualquer sentimento conforme lhe fosse conveniente. Ela queria mais, muito mais do que eu tinha para lhe oferecer e como um retirante em um banquete, ela se lambuzou em mim, fartou-se e despediu-se, quando já estava virando a esquina...
Eu me recolhi, abracei os mil e oitenta e três pedaços meus que aos poucos caiam de mim e me juntei ao entulho da vida... 


Eu tentei me procurar dias depois e só depois de três meses enfim, pude me ver novamente. Eu estava magra, na verdade estava desnutrida, incoerente, incrédula, amarga e incansavelmente sarcástica. Eis o sarcasmo, meu amido, meu alimento.


Ousei navegar em outros mares, atrevi-me a jogar-me em outros amores, experimentei, fui experimentada, gostei, fui gostada, fui desgostada e previsivelmente também fui machucada. Contudo era visível que o que eu trazia em meu peito, já era uma chaga aberta, apenas com uma casca, todavia o ferimento ainda estava ali, para quem quisesse ver... 


Enquanto permaneci distraída, fui deixando no ostracismo a lembrança do véu, do pão, do céu, do mel dela, porém a verdade é que eu nunca me esqueci, apenas deixei-a guardada dentro de um baú, onde só eu poderia encontrá-la outra vez. Mas quem disse que há o interesse em resgatar um sentimento tão nocivo? Não há e não há mesmo! O que há é a imagem daquele rosto magro, sem graça, branco, daquela pele estranha, daquele olhar sem sal que apesar de não transparecer nenhuma qualidade instigante, me levou com ela e talvez ainda leve algo de mim que dorme e acorda, em sua cama, junto dela...


Não penso em voltar, em procurar, não penso em querer, mas preciso ou não entender o que sinto. A verdade é que gostaria de incinerar tudo isso de minha lembrança, mas não é tão fácil. O importante é que não mais me úlcera a saudade, o tempo,  distância. Entretanto a pergunta que foi feita lá atrás e que até hoje não quer calar é: Quem é ela?


Ela não mora mais aqui e talvez tenha fugido de casa. Tentei alcançá-la, mas meus passos foram em vão. Senti seu perfume caro embriagando meu rosto, deslizando sobre minhas costas como uma corrente de ar que assedia o corpo daqueles que são sensíveis como eu...


Não, eu não gosto mais dela e não, também não a amo e nem a amei, o amor passa léguas longe de mim e do que vivemos, todavia quem disse que eu me importo? Não quero uma alcunha para batizar este sentimento que me assombra, me espreita, sussurra em meus ouvidos e diz aquele nome, o nome que não posso dizer, pois habita meu subconsciente e me faz citá-lo a cada minuto.  O nome dela é...




Ela nunca vai saber o que tenho embalado aqui, a cor que tem, seu odor, como fica na primavera, no outono, no inverno, só vai saber que no verão explode, queima e cozinha minha mente a ponto de me derreter completamente. 


Eu sei que eles não dizem, pois nunca disseram nada, no entanto eu ainda sonho com aqueles olhos pequenos, com aquela face estranha que tanto fez sentido pra mim, mesmo quando me matava de dor e me refiro a todas as dores...




O que afinal posso dizer é que seja quem for agora, ela foi a única mulher que me matou, mas me matou de prazer...









"(...) Eu vivi a esperança e você fugiu de mim....
Dois caminhhos diferentes, é a vida que é assim...

Mas eu nunca te esqueci..."






terça-feira, 26 de junho de 2012

A mulher da massa.


A gente ainda vai se encontrar muitas vezes, mas eu só te enxergarei mais uma vez, não será para me despedir, nem pra me lamentar, mas sim, para encerrar esse capítulo nefasto em minha vida, que você teve o prazer de assinar. Não, você não serve nem para ser um fantasma, não tem recursos, competência, sequer inteligência suficiente para me atormentar. Você foi nada mais que um corpo que comi na sobremesa, repeti algumas vezes e que azedou em meus lábios, me causou azia, gastrite, por fim te vomitei e agora posso voltar a ter apetite outra vez. Alguns venenos são bons, mas os mais baratos como você, só fazem estrago breve...

Lembro do seu gosto, do seu cheiro e os associo a um vinho barato, um perfume vagabundo, que depois de certo tempo dão dor de cabeça, aquela ressaca, que no meu caso se fez ressaca emocional. Devo me culpar pela minha ingenuidade, pela minha indulgência, me embriaguei fácil demais em um líquido tão vulgar, tão popular entre as multidões. Você é a mulher da massa, que o povo gosta, desgosta e se deleita e o que eu aprendi nesses quase seis meses em que estive sob o domínio de suas correntes enferrujadas, foi que eu me tornei parte da massa, me igualei a você, aos seus fãs. Logo eu que sempre fui alternativa, diferente, absolutamente atípica, acabei simplificando minha forma de ver a vida, para que entre nós não fosse necessário um léxico, e assim, não houvesse a distração...

Eu me distraí, eu me deixei levar pelo relevante prazer que me foi proporcionado por você, deixei a minha vaidade me guiar, fechei meus olhos e caminhei ao lado de um parasita que me sugou de todas as formas que pôde e nem sequer soube se despedir, apenas deixou que eu lhe extirpasse de meu corpo, para que novamente pudesse voltar a plenitude da vida em cores...

Perdi a naturalidade, misturei lembranças de outros carnavais, outras colombinas e eu como sempre terminei como um pierrot apaixonado e febril, assistindo a colombina sumir nos braços dos mais de mil arlequins... Na quarta-feira de cinzas, junto com os restos mortais da festa da carne, eu encontrei meus pedaços junto aos confetes, serpentinas e demais corações partidos. Sua lembrança me cercou por todos os cantos da avenida e o pior é que eu não senti nada, apenas um vazio estranho que dentro de mim fez um eco e dizia: "Iara covarde..."

Meu coração se apegou a um alguém tão covarde, que se perdeu entre suas próprias penas e hoje cisca em vários galinheiros...

Consigo perdoar as grandes falhas, os grandes erros da humanidade, mas ainda não aprendi a lidar com a covardia. Entendo que há quem se acovarde por medo de machucar aos outros, de se machucar, mas quando a covardia é apenas com o intuito de zelar e de estender a vaidade, para que a reputação permaneça intacta, é absolutamente nauseante. Não respeito quem me fere, para se manter de pé, aquele que não preza o sentimento dos outros, merece ser desprezado. A covardia fede, exala miasma, e a latrina é a boca de quem não consegue ser mulher, não consegue ser gente, ainda não deixou de ser coliforme fecal, contamina e faz mal as pessoas com quem tem contato, mas estou me curando, ou já me curei, não sei! 

É leviano o coração de uma mulher que imaturamente ainda não soube amar, ainda não cresceu, é menina, mas causa a mesma destruição que vinte mil soldados causariam em uma guerra e posso dizer que preferiria ser atingida em cheio no peito, na cabeça, a ser feita prisioneira ou me esconder pela eternidade em trincheiras... Não nasci pra me esconder, sequer recuar. Bandeira branca, só se houver acordo e dignidade entre ambas as partes, mas sabemos que essa teoria é meramente utópica. Não há nada de nobre e nem de digno em olhos tão vis...

Não há nada de bom ou de ruim para lhe desejar, apenas um carma que lhe caiba e lhe vista bem, para que ali adiante todo o sangue derramado por todas aquelas que lhe foram devotas, não seja em vão.

Deixo minhas palavras que perpetuarão como um pergaminho, que de tanto vagar por aí, chegará às mãos e aos olhos daqueles que precisarão absorver essas ideias, a textura do meu eu e do que sinto. 
Faço da minha vida, do meu corpo, do meu espírito, uma morada de paz, sossego e luz, para que seres rastejantes e demoníacos da noite, não mais me enxerguem. Estou me livrando das trevas, estou enfim acendendo a luz e quero voltar a dormir para sonhar com intermináveis dias de sol, onde os sorrisos sinceros abençoarão minha alma...

Ainda há esperança, só não há mais a inocência...


C'est fini