A gente ainda vai se encontrar muitas vezes, mas eu só te enxergarei
mais uma vez, não será para me despedir, nem pra me lamentar, mas sim, para
encerrar esse capítulo nefasto em minha vida, que você teve o prazer de
assinar. Não, você não serve nem para ser um fantasma, não tem recursos,
competência, sequer inteligência suficiente para me atormentar. Você foi nada mais
que um corpo que comi na sobremesa, repeti algumas vezes e que azedou em meus
lábios, me causou azia, gastrite, por fim te vomitei e agora posso voltar a ter
apetite outra vez. Alguns venenos são bons, mas os mais baratos como você, só
fazem estrago breve...
Lembro do seu gosto, do seu cheiro e os associo a um vinho barato, um
perfume vagabundo, que depois de certo tempo dão dor de cabeça, aquela ressaca,
que no meu caso se fez ressaca emocional. Devo me culpar pela minha
ingenuidade, pela minha indulgência, me embriaguei fácil demais em um
líquido tão vulgar, tão popular entre as multidões. Você é a mulher da massa,
que o povo gosta, desgosta e se deleita e o que eu aprendi nesses quase seis
meses em que estive sob o domínio de suas correntes enferrujadas, foi que eu me
tornei parte da massa, me igualei a você, aos seus fãs. Logo eu que sempre fui
alternativa, diferente, absolutamente atípica, acabei simplificando minha forma
de ver a vida, para que entre nós não fosse necessário um léxico, e assim, não
houvesse a distração...
Eu me distraí, eu me deixei levar pelo relevante prazer que me foi
proporcionado por você, deixei a minha vaidade me guiar, fechei meus olhos e
caminhei ao lado de um parasita que me sugou de todas as formas que pôde e nem
sequer soube se despedir, apenas deixou que eu lhe extirpasse de meu corpo,
para que novamente pudesse voltar a plenitude da vida em cores...
Perdi a naturalidade, misturei lembranças de outros carnavais,
outras colombinas e eu como sempre terminei
como um pierrot apaixonado e febril, assistindo a colombina sumir nos braços
dos mais de mil arlequins... Na quarta-feira de cinzas, junto com os restos
mortais da festa da carne, eu encontrei meus pedaços junto aos confetes,
serpentinas e demais corações partidos. Sua lembrança me cercou por todos os
cantos da avenida e o pior é que eu não senti nada, apenas um vazio estranho
que dentro de mim fez um eco e dizia: "Iara covarde..."
Meu coração se apegou a um alguém tão covarde, que
se perdeu entre suas próprias penas e hoje cisca em vários galinheiros...
Consigo perdoar as grandes falhas, os grandes erros
da humanidade, mas ainda não aprendi a lidar com a covardia. Entendo que há
quem se acovarde por medo de machucar aos outros, de se machucar, mas quando a
covardia é apenas com o intuito de zelar e de estender a vaidade, para que a
reputação permaneça intacta, é absolutamente nauseante. Não respeito quem me
fere, para se manter de pé, aquele que não preza o sentimento dos outros,
merece ser desprezado. A covardia fede, exala miasma, e a latrina é a boca de
quem não consegue ser mulher, não consegue ser gente, ainda não deixou de ser
coliforme fecal, contamina e faz mal as pessoas com quem tem contato, mas estou
me curando, ou já me curei, não sei! 
É leviano o coração de uma mulher que imaturamente ainda não soube amar,
ainda não cresceu, é menina, mas causa a mesma destruição que vinte mil
soldados causariam em uma guerra e posso dizer que preferiria ser atingida em
cheio no peito, na cabeça, a ser feita prisioneira ou me esconder pela
eternidade em trincheiras... Não nasci pra me esconder, sequer recuar. Bandeira
branca, só se houver acordo e dignidade entre ambas as partes, mas sabemos que
essa teoria é meramente utópica. Não há nada de nobre e nem de digno em olhos
tão vis...
Não há nada de bom ou de ruim para lhe desejar, apenas um carma que lhe
caiba e lhe vista bem, para que ali adiante todo o sangue derramado por
todas aquelas que lhe foram devotas, não seja em vão.
Deixo minhas palavras que perpetuarão como um pergaminho, que de tanto
vagar por aí, chegará às mãos e aos olhos daqueles que precisarão absorver
essas ideias, a textura do meu eu e do que sinto. 
Faço da minha vida, do meu corpo, do meu espírito, uma morada de
paz, sossego e luz, para que seres rastejantes e demoníacos da noite, não mais
me enxerguem. Estou me livrando das trevas, estou enfim acendendo a luz e quero
voltar a dormir para sonhar com intermináveis dias de sol, onde os sorrisos
sinceros abençoarão minha alma...
Ainda há esperança, só não há mais a inocência...
C'est fini
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