segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sou meu próprio líder: ando em círculos, me equilibro entre dias e noites. Minha vida toda espera algo de mim: meio-sorriso, meia-lua, toda tarde.



Minha língua às vezes tem sabor de terra, minha vida é aliada e inimiga, ela vive em guerra, e as trincheiras são os meus sonhos. Meus olhos cansados são velhos conhecidos, são companheiros distantes, são estradas cor de laranja. Os passos que dou às vezes me levam um pouco para trás, mas ainda assim estou sempre adiante, estou sempre lá na frente e quase nunca encontro alguém. Essa minha solidão é passageira, é tão efêmera quanto um bocejo, é coisa de segundos e ainda assim, fica eternizada na natureza. Eu sou da natureza. Eu me misturo com os grilos e com as vespas e não me perco ao me desencontrar, apenas desapareço e logo apareço lá. Sou cascavel, sou rã, sou tijolo, sou construção. Sou ave, sou coração e não consigo abrir meu armário. Tenho amigos invisíveis, tenho papéis de parede de cores indefinidas. Abro os meus braços e dentro deles muitas vezes só passa o ar. Onde foram todos? Onde é o último andar? Quem vai me buscar? Quem vai me abraçar?

Eu tenho o meu sossego, eu tenho o meu abismo. Minhas fobias são alinhadas e tem cheiro de eucalipto. Meus pés tremem sobre superfícies turvas e se despedem do solo com passos ritmados. Eu não sabia de nada, mas ardia por ignorância. Meu conhecimento era saber fingir que eu sabia alguma coisa. E pensar que eu tinha medo de escuro, de altura e de pessoas indispensáveis. Hoje eu simplesmente me despeço de tudo aquilo que me faz bem, pois não sei ao certo quando não mais os terei. Tudo que é bom acaba como um clarão de um relâmpago. 

Tristes são os dias que se mostram sem fim, arrepiam o corpo na altura na espinha e nada transformam nossas vidas. Vivemos a vida a base hipóteses e conjecturas muitas vezes falhas, incabíveis e que nos dispersam dos nossos objetivos principais, que são simples assim, como a felicidade. Atingir a felicidade é quase como cortar o próprio corpo, é como tentar ferir a si mesmo para encontrar algo que anule o que não lhe faz feliz. Autoflagelo nunca foi e nem nunca será solução, mas quem está interessado em soluções à uma hora dessas? A verdade é que no fundo ninguém se importa e isso dói. Isso fecha todas as portas.

As linhas horizontais não mais tem o mesmo formato, o eixo de rotação da Terra não mais se mostra igual. Tudo foi alterado, o sol arde mais que antes e ninguém mais dá bom dia. Corro o risco de não lembrar mais quem eu sou em um desses dias de fúria. Crime e castigo: quem vai se responsabilizar? Quem vai se sujar?

Da altura do céu, só vejo espelhos e pessoas chorando por razões sem sentido. Eu não as alcanço e não me permito viver assim. Eu criminalizo tudo aquilo é deletério, tudo aquilo que não produz algum benefício. Estou apenas querendo rasgar a minha camisa e encontrar a minha querida. 

Três dias e não peço mais nada, apenas uma agulha e um lençol. Não me peça pra ter nexo, não sou coerente na maioria dos casos. Eu sou algoz, sou serpente, meu lado angelical se perdeu quando eu vim para esse mundo viver e arder com os demais humanos. Eu perdi o meu direito de voar, continuo me jogando nos braços do vento, me vendo como pássaro e não alçando voo. Continuo presa em minhas pernas. Meus dedos fazem curva o tempo todo em torno do cabelo dela. Chamaria até isso de carinho, mas não é. É apenas uma dança, a dança dos dedos. 

Cansativos são dias em que nada me faz abrir portas e continuo presa e solta. Temo o fogão de lenha da vida que insiste em me assar. Estou além de qualquer beco, de qualquer edifício, de qualquer promessa, de qualquer vício. Estou na margem de um rio que ferve e de lá não sai nada. As lavas do vulcão dos olhos de magma me queimaram, mas algo em mim se transformou em rocha! Estou dura, rígida. Pobre de mim...

Estou casada com o incógnito, com o inóspito, com o non grato. O aluguel que pago para viver nesse mundo, não me dá o direito de sorrir sempre e eu tenho os meus direitos. Não tenho voz para reclamar.


Eu fui, mas algo em mim ficou.

Corra, meu amor, corra!

domingo, 22 de maio de 2011

Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.




Há um desgaste muito grande na humanidade, a tristeza virou rotina, a depressão virou companhia no jantar. Vejo pequenos momentos de alegria perdidos entre microscópicos irmãos dos grãos de areia de uma praia deserta, em pleno domingo. Quem somos hoje? Como fomos parar tão longe? É fácil notar que não mais nos encontramos. É tudo dor e parece que a dor hoje em dia traz um certo alívio, pois nos tranquilizamos quando percebemos que ainda conseguimos sentir algo, ainda que esse algo seja dor. É o massacre que esse imenso mundo apático fez com nossas pobres almas arranhadas. Houve um tempo em que sofrer era insuportável e as pessoas então resolveram transformar tudo o que sentiam em eterno formigamento, eis que muitas pessoas permanecem assim, castigadas pelas suas próprias escolhas impensadas.

Somos a face de uma população estranha, desconhecida, carnívora e sem união. Não temos mais apreço pelas coisas simples, pequenas e sem importância, que comumente nos fariam muito felizes e isso é só porque hoje temos tudo, o mundo na palma das mãos. Esse domínio, esse poder nos trouxe uma avalanche de solidão, de animosidade, de desentendimentos, de cansaço, de medos. Somos a raça do medo, do desassossego, da ansiedade constante e cortante.

Os pulsos ainda pulsam, os corações ainda batem, os pés ainda caminham, os olhos ainda enxergam, mas as almas ainda sentem? Essa pergunta ainda é sem resposta e será ainda por muito tempo.

São sempre histórias e pessoas distintas que se esbarram e recomeçam uma outra história, mas sempre fica um passado, sempre fica uma página ou um livro todo virado. O melhor recurso da humanidade tem sido o rápido esquecimento, ou o suposto esquecimento. É fechar os olhos, respirar fundo, deitar a cabeça no travesseiro e dormir, dormir e dormir. Muitas vezes quando durmo, eu entro em um mundo não tão melhor que esse, muito mais perverso e confuso e isso em parte, se explica pelas minhas antigas viagens, meus passeios andinos, tão indiferentes, tão gelados, tão alucinantes, que mascararam muitas das minhas aflições e as devolveram ao meu coração antes que eu pudesse piscar. Eu me joguei na jaula junto aos leões e sobrevivi, mas tenho marcas, lutei durante dias incansáveis, mas consegui vencer, mas fato que eu ainda não me recuperei totalmente. Tenho rachaduras, arranhões, mordidas, lembranças e talvez essas doam mais do que todo o resto.


É fácil alegar que nada dá certo se ainda não ousamos fazer não dar errado. E se der, e se não funcionar o segredo é continuar tentando e uma hora, naquela hora, vai funcionar, vai dar certo. O problema é que a maioria das pessoas desiste no primeiro “não” do mundo. A derrota está em não aceitar perder: ganhar é fácil, difícil é saber perder.

Estamos tão desalinhados e ainda insistimos em fazer certas curvas e me pergunto onde vamos parar correndo o mundo em alta velocidade. Os acidentes são tão visíveis e previsíveis, mas não, não os evitamos. Tamanha inconsequência! Tamanha inexperiência! Tamanha humanidade!

Aos poucos estamos partindo, aos poucos estamos morrendo e nos despedindo de tudo isso que nos trouxe. É, irmãos, não soubemos aproveitar o melhor que nos foi proporcionado, não soubemos saborear as cascas das frutas, desejamos sempre o recheio, o centro e o sabor na maioria das vezes não foi dos mais agradáveis. O segredo sempre esteve escondido, nos lugares mais simples e inusitados, mas fomos clichês demais e não nos demos conta. Ficamos cegos e impassíveis diante do óbvio. Fracassamos.

Fica aqui a marca do que eu não soube descrever, tampouco escrever, fica aqui a minha ignorância, o meu pesar, o meu cansaço, e minhas asas costuradas, doídas e já tortas de tanto cair pelos cantos.

Sou um anjo cambaleante com sérios problemas para voar e adoro uma cachaça.

Será que o céu vai me querer de volta?

sábado, 21 de maio de 2011

À fada do dente



Amar às vezes é como uma doença sem cura e ter que carregar essa enfermidade às vezes pode ser cansativo demais, havendo apenas um tratamento que amenize todo esse sofrimento: as distrações. Somos responsáveis pelas nossas escolhas, pelos nossos erros, pelas nossas culpas e pelos nossos pesadelos. A intenção é sempre isentar-se de tudo isso e lavar as mãos, procurar sentir-se o menos responsável e preso possível, mas sim, todos temos culpa no cartório. 

Ela é como um céu que se abre em plena tarde de tempestade, e sorri com a sua meia lua branca, tentando fazer esse mundo louco em que vivemos exalar um certo tipo de paz celestial. Quem é ela mesmo?

Ela dá bom dia e nem sequer acredita em suas próprias palavras. Ela é a imperatriz das contradições. Como pode? Ela ainda não se viu, não se ouviu, não se entendeu, né? Não!

E meu coração não consegue odiá-la por muito tempo e me pergunto por quê. Seria tão mais prático, tão mais favorável a mim e não consigo. Ensaio conflitos, discórdias, incompatibilidades e absolutamente nada brota em mim, só o nefando amor. Estou assim, nos braços do acaso, esperando a próxima enchente me levar, quero ser lambida, varrida, carregada, engolida. Não quero mais e sempre vou querer.

Ela é uma espécie de animal que exprime carência, solidão e um pouco de demência, mas não, em hipótese alguma assume isso. Ela tem sempre que exibir essa imagem de autossuficiência, de imponência, desprendimento e erudição. Essa é a palavra: erudição. Ela quer soar sábia, longeva, sólida e madura. Não é. Simplesmente não é. Ela é um bebê de colo, com suor na palma das mãos, uma timidez esfolante nos olhos e medo, mas muito medo dentro do coração. Mas é segredo, é a sua fraqueza e o seu arpão. Ninguém sabe.

Como Deus pode me fazer ver tantas coisas, ouvir tantas coisas, saber tantas coisas e me deixar nessa impotência do "não poder revelar"? Eu tenho que me agarrar diariamente em meus princípios para que a minha língua não mate a três pessoas ao mesmo tempo. Seria o funeral do ano. 

E nada mais faz sentido se pelo menos uma vez no mês não nos sentarmos e ficarmos lado a lado, vendo o tempo passar, as horas caminharem e nada precisar ser dito, apenas sentido. E temos isso. Ela é o meu demônio no Céu, ela é o meu anjo no inferno. Não consigo deixa-la de lado, pois não há uma separação entre nós. O carinho é mais recíproco do que deveria ser e ao mesmo tempo não é. Ela semeou um planeta de paradoxos em minha vida, como os mesmos que se escondem atrás de suas pernas.

E eu a amo com a força de dez tornados enfurecidos, com o calor de um sol mais que aceso, com a ternura de uma mãe que dá a luz, com a paz de uma manhã na mata, ou simplesmente à beira do mar. Ela é o caos e o sossego, é sim, o amor da minha vida e não, ela não pode ficar comigo, pois não podemos. E se eu chorar, estarei sendo aquela pessoa que eu não devo ser...


Espero que nada seja o que parece agora e se for mesmo que eu não entenda nada, pois as certezas machucam e saber que algo é seu e não poder possuí-lo é de uma maldade...

Até ali...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Sinto muito, ela não mora mais aqui.





Será que as desculpas são sempre sinceras? Será que as mágoas são eternas? Será que dá para apagar com a borracha do tempo, as cicatrizes feitas ao longo da vida, por amores e relacionamentos doentios que mancham toda uma vida? Apenas uma palavra: trágico.


A tragédia está na falta de coerência, no tropeço das palavras e claro, no excesso de carência. Queremos sempre preencher um vazio com aquilo de mais oco que nos é proporcionado. Fazemos um verdadeiro carrossel de equívocos e perturbações mistas. E ainda nos julgamos capazes de amar...


Verdade seja dita, as relações se transformaram em vergalhões enferrujados, nos perfurando a cada noite de frio intenso, nos trazendo o tétano, a febre, o suor,  calafrios,  medos, espasmos e desconforto nas pontas dos dedos.


Vejo em mim, alguém que preferiu abrir mão de sentir certas coisas, por receio de perder a própria identidade, pois sim, era o que me abatia. Os constantes mergulhos, as incansáveis convulsões, o choro preso, e o mesmo frouxo como uma fivela mal encaixada. A perda dos sentidos vinha então disso, da não    
não ausência do espírito de porco que em mim morava, o tal amor mal mastigado, minha indigestão eterna.


Minha obra de arte então, era saber desenhar com uma chuva de palavras cada instante em que fui mal interpretada; mal vista; mal engolida; degustada, eu era apenas um pedaço de carne podre na boca dos abutres. 


Eu subi aos céus do meu próprio fogo morto e inconsequente, nada mais poderia me ferir alem de mim mesma. A minha grande inimiga era eu. A grande descoberta. Eu fui vagando, passando por trópicos e meridianos, linhas imaginárias e sorrisos desalinhados. Não reconhecia quem morava dentro da minha boca, tampouco quem morava dentro de mim. Mas isso foi apenas uma fase, uma fase gelada e levadiça. Agora eu sou das árvores, dos pontais e dos pores do sol.




"Nada disso aconteceu, não foi desse jeito."




Hoje é só mais um dia dos vários dias epifânicos que virão. 

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Um coração divido em dois, acaba não sendo coração nenhum.



"Olha o sopro do dragão", dizia Renato Russo. Os dias e as noites não trazem mais a mesma ideia, nada mais caminha com o mesmo espírito. Todos mudaram e mudaram muito. Caí antes que fosse derrubada, senti no chão a ferrugem e o corte da espada e posso dizer que sobrevivi. Vi meu sangue derramado transformado em leite e matando a fome de tantos. O que de especial eu teria para me tornar alimento em forma líquida? Eu não sei, perguntei a Deus, perguntei ao vão, perguntei aos meus e ninguém soube me responder não. Eu continuei fingindo saber o que de fato não fazia ideia. Sim, eu continuo fingindo.


Seria hipócrita por demais fingir ser alguém que eu odeio, mas certas situações nos fazem perder status no mundo. Eu errei, pois sou humana, mas ir para baixo da cama como um cachorro assustado não é do meu feitio.  Eu congelei olhando para aquelas paredes, pois elas sabiam de tudo, elas me conhecem. Eu temo me perder às vezes entre os concretos. Sou canibal de mim e preciso me alimentar


Hoje já é dia de feira.